Sandra Rocha, uma hippie que encontrou no macramê um novo sentido na vida

Artesã de Barra do Garças é uma das personagens do projeto Academia Digital, que começou a ser produzido

Da Assessoria

Ela nasceu em Goiânia, viveu a infância em Aragarças, foi para Barra do Garças e depois seguiu para São Paulo. Na capital paulista Sandra viveu um novo mundo, grande como ela deseja desde os tempos de menina. Ainda adolescente conheceu artes e artistas. Viu de perto, por exemplo, a chegada e crescimento dos Novos Baianos na cena cultural da “Terra da Garoa”. Até que ali ficou também pequeno para Sandra Rocha.

E ela partiu. Foi viver a aventura hippie daqueles idos dos anos 60. Pegou a mochila, esticou o polegar pelas estradas e de carona em carona foi ao Uruguai, depois Argentina, Chile, Peru e Bolívia. “Meu sonho era conhecer a América do Sul, subir a cordilheira dos Andes, viver no altiplano e parar em Machu Picchu”, afirma se referindo à mística e misteriosa cidade inca perdida, que fica no topo de uma montanha de quase 2,5 mil metros na parte peruana da famosa cordilheira.

Dali ela desceu para a Bolívia e em Santa Cruz de La Sierra conheceu um dos amores de sua vida e com ele teve seu único filho. Depois da jornada pela América do Sul, Sandra foi parar em Arambepe (BA), onde se fixou por algum tempo na famosa aldeia hippie do lugar. “Ali foi uma experiência extraordinária”, recorda ela.

Cansada de anos como hippie e com saudades da família, Sandra Rocha voltou a Barra do Garças, para próxima dos seus. E encontrou no macramê outro sentido para sua vida. O trabalho com materiais recicláveis, como sombrinhas velhas, também a reconectou com o meio ambiente.

Parte dessa história de Sandra Rocha será contada em um dos 12 documentários que estão sendo produzidos para o projeto Academia Digital, que faz parte da revitalização da Academia de Letras, Artes e Cultura do Centro-Oeste, com sede em Barra do Garças. A série começou a ser produzida esta semana. Além de falar sobre sua história e o desenvolvimento de sua arte, Sandra Rocha ministra no vídeo uma oficina sobre o macramê.

Sandra fala com entusiasmo de seu ofício e de outras lidas que aprendeu durante suas andanças, como a confecção de bijuterias de sementes. Ela aprendeu o artesanato no mundo hippie, mas a coleta das sementes também é uma arte e saboroso momento de vivência com a natureza.

Bisneta de barra-garcenses, sua convivência com os indígenas no Araguaia facilitou a conexão. “Tem muita natureza nesse trabalho. Aprendi com os Carajás, na Ilha do bananal. Não apanhamos as sementes direto do chão. Esperamos os animais consumirem os furtos e levarem para natureza e o que sobrar, as sementes. Então a gente colhe”, descreve ela.

Sobre a reciclagem de sombrinhas ela explica que os tecidos empregados na fabricação dos objetos, em geral importados, levam muito tempo para decompor-se na natureza. “Eu recolho as sombrinhas e com os tecidos faço almofadas e outros produtos”, explica.

A prática com o macramê ela aprendeu também por suas andanças por outros países, feitas especialmente para conhecer. Ela gosta de trabalhar com a corda de sisal, com as quais produz cadeiras, cortinas e outros objetos. “Gosto muito do que faço. Consegui independência com a arte e a ajuda dos meus amigos. Sou muito grata a todos eles”, finaliza.

O projeto

O projeto Academia Digital objetiva revitalizar as atividades e acervo da Academia de Letras, Cultura e Artes do Centro-Oeste. Selecionado pelo Edital MT Criativo da Lei Aldir Blanc em Mato Grosso, o projeto tem oficinas digitais de artes plásticas, escultura, percussão, bordado manual, cultura indígena, artesanato e macramè, literatura e teatro, cartoon e caricatura, produção cultural, vídeo, política cultural e elaboração de projetos, e organização cultural no terceiro setor.

A Academia

A Academia de Letras, Cultura e Artes do Centro-Oeste foi fundada em 15 de setembro de 1987, em Barra do Garças. Ela é fruto da união de artistas, intelectuais e incentivadores da arte e da cultura que vislumbraram na instituição a oportunidade para proteger, estimular e difundir o patrimônio cultural de Barra do Garças e de toda a região do Vale do Araguaia, inclusive a parte goiana.

Pessoas com relevantes serviços prestados na área, luminares como Valdon Varjão, Melchíades Mota, Florisvaldo Flores Lopes, Zélia dos Santos Diniz, e muitos outros, se dedicaram diuturnamente, de maneira voluntária e espontânea, a instalar e estruturar a nascente instituição que foi muito bem recebida e acolhida pela comunidade e pela classe política.

Ao longo desses mais de 30 anos de instalação e desenvolvimento a Academia se tornou um importante centro cultural, referência na região e construiu uma sede, na região central de Barra do Garças. Atualmente ela é presidida pelo cantor, compositor e escritor Divino Arbués.

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