Com uma população atual de cerca de 25 mil indivíduos, a etnia é marcada pela história de resistência ao contato com as frentes de colonização
Da Assessoria*
A rica cultura xavante é um dos temas do projeto Academia Digital, que contará com uma série de 12 documentários, cuja produção teve início semana passada em Barra do Garças. No vídeo sobre esta que uma das etnias que compõem os povos indígenas mato-grossenses, duas lideranças daquele povo aparecem contando suas histórias e resgate da cultura xavante. Em outra vertente está um indigenista, que promove a conexão para o documentário e também colabora com a produção.
Xisto é uma das lideranças indígenas personagem desse documentário. Ele é grande liderança do clã Öwawe, atua na educação escolar indígena Xavante há muitos anos, é graduado e especialista. Atualmente é assessor especial na prefeitura municipal de Barra do Garças, organizando a política de Educação do município de forma que atenda aos princípios da interculturalidade.
Oscar é outro personagem. Ele é grande liderança do clã oposto, Po’redzaõnõ, e também atua na educação escolar indígena há muitos anos. É mestre e está cursando doutorado no estudo de sua língua tradicional. É professor efetivo do Estado do Mato Grosso e também faz parte da equipe que gere a educação indígena em Barra do Garças. Presidente da Associação Xavante APSIRE, desenvolve importante trabalho de captação de recursos para o fomento da cultura tradicional A’uwe Uptábi.
Gabriel Muria é indigenista da FUNAI, formado em ciências sociais, atuando há mais de dez anos na Coordenação Regional Xavante, principalmente no apoio às atividades tradicionais e rituais e no acompanhamento da educação escolar e comunitária.
Os Xavante
O povo A’uwe Uptábi, também conhecido como Xavante, do tronco linguístico Macro-Jê, habita desde tempos imemoriais o cerrado brasileiro, e tem seu território há mais de 200 anos na região da bacia do rio Araguaia. Com uma população atual de cerca de 25 mil indivíduos, é marcado pela história de resistência ao contato com as frentes de colonização do “branco”, chamados em sua língua de waradzu. A relação permanente com a cultura waradzu tem menos de 70 anos; essa força de resistência faz desse povo uma das culturas tradicionais mais ricas do mundo, com sistemas econômico, espiritual, artístico e de organização social muito singulares.
A arte e a educação na A’uwe Hoimanadzé (cultura xavante) são atividades coletivas que envolvem cada um dos membros da comunidade; todos são cantores, artesãos, artistas plásticos, atores. Essas atividades artísticas e educativas (e espirituais) se concentram nos rituais tradicionais, os quais re-constróem permanentemente a rede de alianças e competições entre os clãs e tecem sua bela rede de significados estéticos e morais.
O projeto
O projeto Academia Digital objetiva revitalizar as atividades e acervo da Academia de Letras, Cultura e Artes do Centro-Oeste. Selecionado pelo Edital MT Criativo da Lei Aldir Blanc em Mato Grosso, o projeto tem oficinas digitais de artes plásticas, escultura, percussão, bordado manual, cultura indígena, artesanato e macramè, literatura e teatro, cartoon e caricatura, produção cultural, vídeo, política cultural e elaboração de projetos, e organização cultural no terceiro setor.
A Academia
A Academia de Letras, Cultura e Artes do Centro-Oeste foi fundada em 15 de setembro de 1987, em Barra do Garças. Ela é fruto da união de artistas, intelectuais e incentivadores da arte e da cultura que vislumbraram na instituição a oportunidade para proteger, estimular e difundir o patrimônio cultural de Barra do Garças e de toda a região do Vale do Araguaia, inclusive a parte goiana.
Pessoas com relevantes serviços prestados na área, luminares como Valdon Varjão, Melchíades Mota, Florisvaldo Flores Lopes, Zélia dos Santos Diniz, e muitos outros, se dedicaram diuturnamente, de maneira voluntária e espontânea, a instalar e estruturar a nascente instituição que foi muito bem recebida e acolhida pela comunidade e pela classe política.
Ao longo desses mais de 30 anos de instalação e desenvolvimento a Academia se tornou um importante centro cultural, referência na região e construiu uma sede, na região central de Barra do Garças. Atualmente ela é presidida pelo cantor, compositor e escritor Divino Arbués.
(* Colaboração: Gabriel Muria)
Foto do alto: Gabriel Muria
Não é pra ficar calado mesmo!
Maravilhosa matéria, reflete um trabalho fecundo e sem limites, no sentido de aprimorar e divulgar a Cultura Xavante.
Parabéns a todos envolvidos e em especial a tua trajetória Gabriel Muria.