Presidente mostra seu viés racista ao ser cruel com auxiliares negros e complacente com os brancos, como Rui Costa e suas mãos lambuzadas de sangue de jovens negros baianos
Por João Negrão
Tapiocas compradas com cartão corporativo não se comparam a denúncia de assédio sexual. Nunca! Contudo, é impossível ver a destruição moral imediata e impiedosa de Sílvio Almeida e não lembrar do que fizeram com Matilde Ribeiro e Orlando Silva, dois ministros negros demitidos e impiedosamente por governos do PT. O mesmo presidente petista que tem no gabinete ao seu lado no terceiro andar do Palácio do Planalto um ministro com as mãos lambuzadas do sangue de jovens negros da Bahia.
Rui Costa, o ex-governador da Bahia, foi o responsável direto pelo assassinato de jovens negros à medida que era o comandante-chefe da Polícia Militar em um estado que computa mais de 80% de população negra. Mas Rui Costa, o todo poderoso ministro-chefe da Casa Civil está ali, todo faceiro e impune, sentado ao lado de Lula. Sem falar do que sopram os ventos uivantes dos pilotis do Palácio do Planalto que dão conta da postura reincidente de assédio moral praticado por ele, inclusive contra seus colegas ministros da chamada “cozinha da Presidência”.
Juscelino Filho, titular das Comunicações, foi indiciado pela Polícia Federal suspeito de participar de organização criminosa que desviou recursos de obras rodoviárias da estatal Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf). Juscelino Filho já aprontou outras peraltices de menos vulto. Não vale a pena aqui relacioná-las. Por enquanto vamos lembrar que, para o presidente Lula, ele não pode ser importunado, porque, afinal, indiciamento não é atestado de culpabilidade. Lula evocou o benefício da dúvida para os dois. Um foi defenestrado. O outro continua.
Seria coincidência o fato de Rui e Juscelino serem dois brancos? Não somente. Costa é uma das lideranças de maior vulto no espectro político-ideológico do PT de Lula. Digo “PT de Lula” porque este ainda é um partido dividido em tendências. E Filho é um notório quadro do União Brasil, um dos partidos fortes do chamado “Centrão”, cuja força dentro do governo de Lula exerce atuação paradoxal. Um “aliado” que só se alia se tiver cargos, em suma mais poder, e quando os tem não titubeia em trair o presidente no Congresso Nacional.
E Lula prossegue aceitando as chantagens do “Centrão” e seu chanceler, um certo Arthur Lira. O mesmo Lira que banca Juscelino Filho e que obriga o presidente Lula a ser cruel também com mulheres.
Uma delas atende pelo nome Ana Beatriz Moser, ex-ministra do Esporte, demitida por Lula para agradar ao Centrão, que lhe impôs um certo André Fufuca. A outra era presidente da Caixa Econômica Federal. Rita Serrano, funcionária de carreira da estatal financeira, assumiu logo no início do governo Lula ainda em meio às denúncias de assédio sexual do presidente anterior, Pedro Guimarães, que acabou indiciado pela Polícia Federal. Aliás, a quantas anda o processo? Vou pesquisar.
Eu não estou defendendo o Sílvio Almeida. Penso que há forte indícios de que é culpado. Mas ele tem direito à defesa e ao contraditório. O que aponto é a celeridade que os governos do PT têm diante de denúncias contra ministros negros e o desleixo pelos casos notórios de racistas, fascistas e corruptos em suas fileiras.
Uma pergunta: teria sido humilhado cruelmente e sumariamente demitido se Silvio Almeida fosse branco e membro de partido do Centrão e da patota de Arthur Lira?
* João Negrão é jornalista em Brasília.