Análises de Conjuntura: um estudo sobre violência no Brasil

Lido para Você, por José Geraldo de Sousa Junior, articulista do Jornal Estado de Direito

Análises de Conjuntura (2020-2022). Melillo Dinis do Nascimento (org); Coordenação do Grupo de Análise de Conjuntura Padre Thierry Linard – Digital SKU: 4113 ISBN: 9786559753420. Conferência Nacional dos Bispos do Brasil. Edições CNBB. Ideal para Web, tablet, telemóvel, eReader. Publicado em 28 de fev. de 2024. 590 p. https://www.edicoescnbb.com.br/livros-digitais/documentos-da-cnbb/analises-de-conjuntura-2020-2022-digital

Dois dias depois de sua reunião na sede da CNBB em Brasília, o Grupo de Análise de Conjuntura Padre Thierry Linard (https://www.cnbb.org.br/grupo-responsavel-por-oferecer-analise-de-conjuntura-para-o-episcopado-brasileiro-reune-se-na-sede-da-cnbb/), viu realizado um de seus mais acalentados objetivos, o de ver publicada as suas análises, não só para o episcopado, mas para todos e todas que têm boa vontade.

Com efeito, o Grupo, conforme a matéria do setor de comunicação da Conferência esteve reunido na sede da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), em Brasília (DF), nos dias 26 e 27 de fevereiro. Sob a coordenação do bispo de Carolina, no Maranhão, dom Francisco Lima Soares, o grupo é composto por representantes da docência universitária, de entidades da sociedade e de organismos ligados à Conferência. Da reunião, também participou o secretário-geral da CNBB, dom Ricardo Hoepers: “Responsável por oferecer, sistemática e periodicamente, uma análise de conjuntura para o episcopado brasileiro, o grupo já ofertou 26 documentos desde sua constituição, em 2019. “A média é que, a cada dois meses, nós tenhamos um documento elaborado, com assuntos variados, desde a área da economia até a área da violência”, explica dom Francisco Lima”.

A reunião de fevereiro, a única presencial prevista para o ano de 2024, teve por finalidade planejar todas as temáticas das reuniões que terão até o final do ano. Além disso, para março, o grupo discute a questão das violências urbana e rural, temáticas que inclusive deverão ser apresentadas aos bispos na próxima reunião do Conselho Permanente da CNBB, nos dias 12 a 14 de março.

Presente à reunião, o Secretário-Geral dom Ricardo Hoepers, ofereceu uma completa exposição sobre a estrutura organizacional da CNBB e o lugar que as comissões e grupos especiais têm na institucionalidade, do maior episcopado do mundo com 491 bispos. Ainda que esse serviço, como reflexão que se insere necessariamente e formalmente na dinâmica de reuniões (Assembleia, Conselhos), são uma contribuição autoral e opinativa. Tal como está no portal da CNBB, é “Importante destacar que o material produzido é fruto da reflexão desse grupo, denominado “Grupo de Análise de Conjuntura”, e oferecido aos Bispos, através da presidência da CNBB. Sendo assim, o conteúdo das análises não representa necessariamente o pensamento dos bispos, mas tem por objetivo analisar a conjuntura de forma que a ação evangelizadora aconteça de maneira encarnada, levando em conta as grandes questões da atualidade”.

Não obstante, a CNBB “disponibiliza os links para que o material seja de acesso público e assim possa contribuir para a ação de outras forças eclesiais e sociais que buscam protagonismo na construção de um novo tecido social gerador de uma sociedade justa, fraterna e solidária, em especial cuidado com a Casa Comum” – https://www.cnbb.org.br/analisedeconjuntura/ .

Em visita a CNBB e tendo se apresentado para cumprimentos ao Grupo, foi gratificante ouvir de um sacerdote, que exerce atribuições secretariais em Regional da Conferência (no Centro-Oeste), que há sempre grande expectativa para além dos bispos, daqueles que acompanham as assembleias e reuniões sobre os textos preparados pelo Grupo, sempre lidos com muita atenção e projeção pedagógica nos espaços pastorais.

Até mesmo dom Ricardo, não deixou de externar, em moto próprio, a atenção aos eixos temáticos que se projetam das análises, especialmente aqueles que dialogam com as exortações e ensino do Papa Francisco: ter em causa que a economia é para todos; que a sublimidade da política se manifesta pela paz que é construída pela justiça – A paz é fruto da justiça. (Is 32,17) – e pela exigência fraterna do cuidado com a casa comum.

Lançar a obra, tema deste Lido para Você, é um modo de corresponder a essas expectativas, internas, do Grupo; e externas, a partir dos auditórios, confessionais e laicos, que a interlocução proporciona.

De acordo com a Descrição preparada para a edição: “Nestas 22 análises de conjuntura, de maneira transversal, o “Grupo de Análise de Conjuntura” procura mergulhar na realidade do Mundo, da América Latina e, como foco principal, a realidade brasileira nos aspectos social, político, econômico jurídico e cultural, do período de fevereiro de 2020 a novembro de 2022. Não se trata de um Documento da CNBB, mas de uma produção fruto da reflexão do grupo e oferecida aos Bispos, através da presidência da CNBB. Sendo assim, o conteúdo destas análises não representa necessariamente o pensamento dos Bispos, mas tem como objetivo oferecer a eles elementos à luz dessas ciências, um discernimento que venha lhes ajudar na ação evangelizadora em sua realidade, levando em conta as grandes questões da atualidade”.

Uma mirada no sumário do livro:

Prefácio (Dom Francisco Lima Soares)

Introdução (Melillo Dinis do Nascimento)

2020

Elementos para uma análise de conjuntura (fevereiro)

A conjuntura em tempos de coronavírus (abril)

Os desafios da conjuntura brasileira (junho)

. A democracia brasileira em tempos de crises (julho)

Eleições municipais de 2020 e o fortalecimento da democracia local (outubro)

Análise dos resultados das eleições municipais (dezembro)

2021

A reforma tributária (janeiro)

O povo de Deus sofre com a doença e a fome (abril)

O desmonte do Estado brasileiro e o retrocesso civilizatório (maio)

O desmonte do Estado brasileiro: desafios da conjuntura (junho)

Passado, presente e futuro da Casa Comum (agosto)

Uma conjuntura de crises e tensões (setembro)

A complexidade do quadro político e seus desdobramentos (outubro)

A conjuntura brasileira e a crise social (novembro)

2022

Desafios múltiplos e a necessária serenidade para o futuro (fevereiro)

As eleições nacionais de 2022: contexto, dinâmica e desafios (março)

Os clamores do meu povo: a realidade brasileira de 2022 (abril)

A conjuntura política brasileira e as ameaças à democracia (maio)

Por que a economia brasileira está estagnada, apesar de nossas imensas potencialidades? (junho)

Exigências éticas, justiça social e democracia (agosto)

A política brasileira e internacional (outubro)

A salvaguarda da democracia no Brasil e os novos enfrentamentos (novembro)

Quadro de autores

Homenagem ao Pe. Thierry Linard

No seu prefácio dom Francisco começa por definir alguns contornos da publicação:

Antes de apontarmos algumas indicações neste conjunto de artigos que compõe esta obra, fazemos lembrar que ao menos no ocidente é convencionado que uma análise de conjuntura não é uma obra neutra, tomada independentemente de um posicionamento político, já que a escolha das variáveis de análise pressupõe uma escolha diante da realidade. Todavia, deve-se respeitar a dinâmica social, pois as mudanças conjunturais não ocorrem simplesmente da vontade do cientista que mergulha na análise, devendo-se distinguir as condições subjetivas das condições objetivas. Deste postulado, uma análise de conjuntura não deve ficar restrita aos limites inerentes de uma dada situação histórica, mas deve mostrar as oportunidades existentes e as possibilidades abertas no movimento contínuo a cada tempo, em um espaço concreto e nos processos de transformação.

A nota de posicionamento distingue o que é legítimo esperar do conjunto de professores cientistas extremamente competentes formados por membros da CNBB, assessores, professores doutores das Pontifícias Universidades Católicas e por peritos convidados. Ao longo da produção nas análises colecionadas na edição, foram autores e autoras e participaram do processo: Pe. Paulo Renato Campos – Assessor de Política da CNBB, Pe. Thierry Linard de Guertechin, S.J. (in memoriam), Antônio Carlos A. Lobão – PUC/Campinas, Francisco Botelho – CBJP, Gustavo Inácio de Moraes – PUC/Rio Grande do Sul, José Reinaldo F. Martins Filho – PUC/Goiás, Manoel S. Moraes de Almeida – Universidade Católica de Pernambuco – UNICAP, Marcel Guedes Leite – PUC/São Paulo, Robson Sávio Reis Souza – PUC/Minas, Tânia Bacelar – UFPE, Maria Lucia Fattorelli – Auditoria Cidadã da Dívida, Melillo Dinis do Nascimento – Inteligência Política (IP), Luiz Roberto Cunha e Ricardo Ismael – PUC/Rio de Janeiro, além de Dom Francisco Lima Soares – Bispo de Carolina–MA, o bispo destacado para presidir o Grupo.

Em seu prefácio ele traz os elementos balizadores do processo de elaboração das análises além de um ementário de seu conteúdo:

Com estes limites, nestas 22 análises de conjuntura que compõem esta obra, de maneira transversal, procuramos mergulhar na realidade de Mundo, América Latina e como foco principal a realidade brasileira nos aspectos social, político, econômico jurídico e cultural, obedecendo uma dinâmica dos fatos numa cronologia iniciada em fevereiro de 2020 e finalizada em novembro de 2022. Como aspectos pedagógicos, procuramos trabalhar duas análises mais gerais duas vezes por ano e, em média, a cada dois meses, análises temáticas que a equipe, com base nos acontecimentos da realidade julgou mais pertinente durante o ano apresentando-as no Conselho Permanente, nas reuniões do Conselho Episcopal Pastoral (CONSEP) e por ocasião das Assembleias Gerais da CNBB a cada ano.

Tivemos sempre o cuidado de lembrar aos leitores que aqui não se trata de um documento da CNBB, mas de uma produção fruto da reflexão desse grupo, denominado “Grupo de Análise de Conjuntura”, e oferecido aos Bispos, através da presidência da CNBB. Sendo assim, o conteúdo destas análises não representa necessariamente o pensamento dos bispos, mas tem como objetivo oferecer a eles elementos à luz dessas ciências um discernimento que venha lhes ajudar na ação evangelizadora em sua realidade, levando em conta as grandes questões da atualidade.

A obra tem início com o texto “Elementos para uma análise de conjuntura”, de fevereiro de 2020, chamando atenção para o limiar de uma crise, em escala mundial, em nível econômico, ambiental, social, cultural e político, especialmente sob as democracias em crise desde o começo do século, notadamente na década 2009-2019.

Nas cinco análises posteriores de abril, junho, julho, outubro e dezembro de 2020, traçamos uma historiografia dramática das crises supracitadas juntando-se ao fenômeno da pandemia do COVID 19, suas implicações e as possibilidades de saídas. A primeira análise de 2021, mês de abril, com o título “O povo de Deus sofre com a doença e a fome” vem traçar o perfil desolador do maior colapso sanitário e hospitalar da história do Brasil; as cinco analises seguintes do mesmo ano vem desvelar o desmonte do Estado brasileiro e o retrocesso civilizatório, bem como, passado, presente e futuro da casa comum e uma conjuntura de crises e tensões.

Em 2022 os trabalhos de análises iniciam em fevereiro com os “Desafios Múltiplos e a Necessária Serenidade para o Futuro” com o objetivo apresentar um panorama de influências da conjuntura política, econômica, ecológica, social e cultural para o ano e seus impactos potenciais na vida social. Em março deste mesmo ano, a análise coloca em relevo o cenário político com o título “As eleições Nacionais 2022: contexto, dinâmica e desafios” mostrando a nova geopolítica internacional e a guerra da Ucrânia. E no cenário de Brasil as “Crises Econômica, Sanitária e Ambiental ampliam a Crise Social” apontando que a construção social da crise é produzida pelo próprio governo.

A terceira análise do ano, abril/22, fez uma tentativa de refletir e propor um diálogo ante a gravíssima e complexa realidade brasileira quase 50 anos depois da corajosa iniciativa de do episcopado do Nordeste e Centro Oeste com o título “Os clamores do meu povo: a realidade brasileira de 2022” que vem tratar de um mundo sem paz, com muitas guerras, muitas pestes e pouca democracia. Faz ainda um aprofundamento da grave crise social e econômica do Brasil.

Nos chama atenção nesta obra o fato de que em 2022 a quarta, a sexta e oitava análises de conjuntura traduzem um dos momentos delicados da nossa democracia: no mês de maio “A conjuntura política brasileira e as ameaças à democracia”; no mês de agosto “Exigências éticas, justiça social e democracia”; e em novembro “A salvaguarda da democracia no brasil e os novos enfrentamentos”. Analisamos as guerras e conflitos que violam povos e comunidades, ao lado de uma pandemia que ceifou milhões de vidas em todo o planeta, da recessão democrática e da destruição da Casa Comum. Na análise das exigências éticas, justiça social e democracia o grupo viu como positivo o compromisso da Igreja com a democracia formal presente no conjunto de seus documentos , a partir de um modelo de controle da sociedade sobre o Estado, com amplo acesso à justiça social, combate às desigualdades e promoção do bem comum; segundo turno: da instabilidade violenta à normalidade democrática, o resultado do segundo turno e sua repercussão bem como as prospecções sobre o futuro e desafios ao novo governo.

Na Introdução, Melillo Dinis do Nascimento, que co-coordena o Grupo e organiza a obra, chama a atenção, para a complexidade que marca nosso tempo e os desafios que se colocam para quem se propõe compreendê-lo e orientar ações nessas condições:

Em uma época marcada pela complexidade, sugerir realidades, sem utopias, nem distopias, e refletir sobre os próximos tempos da vida brasileira (e muitas vezes mundial) é sempre um desafio. Se imaginarmos a história como um parque de diversões, creio que passamos o século passado andando de carrossel. Mudamos, contudo, de brinquedo no mesmo parque. Tivemos nos últimos anos uma mistura de montanha-russa e trem fantasma. E nem sempre nos apercebemos desta virada.

Não há nada de mais concreto que uma sólida teoria. Assim, esboçar algumas preocupações teóricas como forma de construir análises de conjuntura nos levou ao encontro do objetivo de toda análise: uma tentativa de diagnóstico. A base foi a consciência de que as atuais interrogações éticas brotam de nossa situação histórica própria. As sociedades contemporâneas, marcadas pela existência de um pluralismo de cosmovisões e a ausência de explicações, dependem decisivamente da experiência da globalização e da articulação dos sistemas cultural, político, social e econômico mundial em um campo único, desigual e excludente, contextualizados em cada lugar e a cada tempo. Dito doutra forma: sempre se faz uma análise, não “a” análise!

Algo que nos desafia mas que não nos deve deter:

Realizar “análises de conjuntura” é uma prática da Igreja Católica, como parte fundamental do VER, parte do método “ver-julgar-agir”, uma tradição na história e na prática pastoral/evangelizadora da Igreja Católica, especialmente na América Latina (AL), legada pela Ação Católica do século passado. Claro que descrever uma realidade impõe limitações. Apesar das dificuldades é método muito presente, nos organismos eclesiais e nas muitas e ricas comunidades que forma o povo de Deus. Talvez um conceito de partida seja o ofertado pelo Betinho (Herbert de Sousa). Análise de conjuntura “é uma mistura de conhecimento e descoberta, é uma leitura especial da realidade e que se faz sempre em função de uma necessidade ou interesse”.

Não há uma receita pronta. Foi diante desses desafios que a partir de 2020, como se pode ver nos textos deste livro, se construiu uma forma de fazer as análises de conjuntura do grupo formado em 2019 pela Presidência da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), com a marca da pluralidade, diversidade, regionalismo e do serviço, a partir de uma percepção de que a realidade é complexa e deve ser “compreendida no horizonte da doutrina social da Igreja”. O primeiro passo foi colocar todos os analistas juntos, em um seminário nos dias 11 e 12 de fevereiro de 2020, em Brasília-DF, na sede da CNBB. A partir daí foram se elaborando as análises, em reuniões quinzenais, que permitiram, ao longo do tempo, constituir um modus faciendi que resultou nos textos que os leitores poderão conhecer neste livro. Da mesma forma que foram enviados para os bispos e para os diversos organismos e pastorais, eles foram disponibilizados no sítio eletrônico da CNBB.

No atual mandato do Grupo, a partir do Decreto nº 041/2023, da CNBB, o acervo conceitual, teológico e metodológico é o referencial de arrimo da continuidade e coerência do trabalho de análise. Mas o imaginário e o roteiro são expansores e não redutores do processo, abertos ao experiencial, que revelam e compartilham o nosso percurso sem o impor (Descartes: “meu propósito não é ensinar aqui o método que cada qual deve seguir para bem conduzir sua razão, mas somente mostrar de que modo me esforcei por conduzir a minha”) e até, com sutileza, ao transgressor, contra o método (Paul Feyerabend), como novos pontos de partida e não como cais de desembarque (Antonio Machado: “Caminhante não há caminho, se faz caminho ao andar”…).

O Grupo de Análise de Conjuntura Social, na sua composição atual, definida pelo Decreto nº 041 de 26 de setembro de 2023, (assina Dom Jaime Spengler, OFM, Arcebispo de Porto Alegre – RS, Presidente da CNBB) para o período 2023 a 2027, cujo bispo foi eleito durante a 110ª reunião do Conselho Permanente e os Assessores apresentados e aprovados nesta mesma reunião do Conselho Permanente, integra novos e novas participantes aos antigos e antigas: Dom Francisco Lima Soares – Presidente, Bispo da Diocese de Carolina – MA; Assessores: Frei Jorge Luiz Soares da Silva, Religioso da Ordem dos Frades Menores Conventuais, Província São Maximiliano Maria Kolbe, Assessor de Relações Institucionais e Governamentais da CNBB; Profª. Izete Pengo Bagolin, Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul – PUC/RS; Prof. Marcel Guedes Leite, Pontifícia Universidade Católica de São Paulo – PUC/SP; Dr. Jackson Teixeira Bittencourt, Pontifícia Universidade Católica do Paraná – PUC/PR; Dra. Maria Cecília Pilla, Pontifícia Universidade Católica do Paraná – PUC/PR; Prof. Robson Sávio Reis Sousa, Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais – PUC/MG; Me. Antônio Carlos Lobão, Pontifícia Universidade Católica de Campinas – PUC/CAMP; Prof. José Reinaldo F. Martins Filho, Pontifícia Universidade Católica do Goiás – PUC/GO; Prof. Ricardo Ismael, Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro – PUC/RJ; Prof. Manoel Moraes, Universidade Católica de Pernambuco – UNICAP; Dr. Melillo Dinis do Nascimento, Leigo da Arquidiocese de Brasília – DF; Dra. Maria Lúcia Fattorelli, Leiga da Arquidiocese de Brasília – DF; Dr. Francisco Botelho, Leigo da Arquidiocese de Brasília – DF; Dra. Tânia Bacelar, Leiga da Arquidiocese de Olinda e Recife – PE; eis-me aqui nessa curul, Dr. José Geraldo de Sousa Júnior, Leigo da Arquidiocese de Brasília – DF; Dra. Ima Vieira, Leiga da Arquidiocese de Belém do Pará – PA

Volto a Melillo:

Optamos por oferecer os textos em sua sequência temporal. Cada um dos “capítulos” deste livro corresponde aos anos de produção (2020, 2021 e 2022). É evidente que eles se comunicam. Algumas chaves de leitura são presentes. Há uma relação inerente entre estruturas e conjunturas. Mesmo que não haja uma única linha ideológica, nem desejável nem sob qualquer controle, os textos têm forte influência da tradição social da Igreja brasileira. Os dados ofertados foram verificados, as fontes teóricas e a realidade observável resultaram dos muitos esforços dos membros do grupo em oferecer afirmações com confiabilidade, a fim de evitar “achismos”.

Certo que alguns temas foram mais presentes, em especial em anos tão turbulentos e muito desafiadores que atravessamos. Como cada análise de conjuntura é sempre uma tensão entre o possível e o provável, ainda mais nos temas da(s) política(s), fizemos o caminho de sistematizar as visões distintas sem ceder ao ecletismo. Como é possível que vivamos em um oceano de informações, que acabam por reduzir nossos pontos referenciais, e como é provável estarmos em um mundo (em transformações), que não analisamos de forma única, optamos por oferecer ao fim de cada um deles algumas prospectivas nos chamados “sinais de esperança”.

O livro fecha com uma homenagem ao padre Thierry Linard, assinada por Maria Lucia Fattorelli, da Auditoria Cidadã da Dívida e que é membro do Grupo de Análise de Conjuntura.

Na declinação de Maria Lúcia, o padre Thierry “Deixou grandes contribuições por onde passou, ao longo de 59 anos de dedicação à Companhia de Jesus e 46 anos de sacerdócio: na PUC-Rio onde foi professor, na ASPA da Rocinha, no IBRADES, no OLMA, no assessoramento à CNBB, na CBJP (Comissão Brasileira Justiça e Paz da CNBB), e também no Observatório de Finanças e Economia de Francisco e Clara, ligado à CBJP, e que acabou de ser batizado com o nome do nosso querido Padre Thierry Linard”. Na mesma reunião, o Observatório de Finanças adotou lema inspirado em recente frase do Padre Thierry que resume a linha mestra a ser seguida por um modelo econômico justo: ‘Uma economia humana e ecológica que possa conter a autodestruição do mundo, a terra da qual somos inquilinos e guardiões enquanto a habitamos’. Quanta sabedoria em uma única frase!”.

Thierry também integrou a Comissão Justiça e Paz da Arquidiocese de Brasília, da qual sou membro e compartilhamos o mandato, que exercia no momento de sua páscoa.

Na agenda da CJP-DF inspirou a cooperação que acabou por se estabelecer para fazer convergir projetos comuns de comunicação e diálogo, na perspectiva da construção da paz como realização da justiça. Assim, surgiram “Os Diálogos de Justiça e Paz são inovadores. Sempre na primeira segunda-feira de cada mês, às 19h, temas sensíveis à sociedade brasileira serão tratados em um formato de roda de conversa. A inovação surge da parceria entre os organismos coordenadores reunindo as “Conversas e Justiça e Paz “, protagonizadas pela CJP-DF – Comissão Justiça e Paz de Brasília, e os “Diálogos em Construção”, desenvolvido pelo OLMA, trazendo neste contexto uma homenagem ao Padre Thierry Linard de Guertechin SJ, belga que vivia no Brasil desde 1975, e cuja obra é fecunda na promoção do diálogo e do bem comum” (https://brasilpopular.com/dialogos-de-justica-e-paz/).

Vê-se que erigir o padre Thierry nesse paraninfado, não é meramente pompa e circunstância. Em sua trajetória a análise de conjuntura já se fazia núcleo de reflexão – ver, julgar, discernir – sobre a realidade. Consulte-se o acervo dos Diálogos em Construção, para localizar a contribuição de Thierry, nesse caminho teológico-metodológico.

Fiz anotações sobre isso, em Lido para Você (https://estadodedireito.com.br/proposta-dialogica-para-tratar-temas-contemporaneos-e-superar-a-intolerancia/), a propósito da Coleção Diálogos em Construção. Proposta Dialógica para Tratar Temas Contemporâneos e Superar a Intolerância. Edla Lula. 5 volumes: 1º Sobre Política; 2º Sobre Pandemia; 3º Sobre Sociedade; 4º Sobre Economia, Ecologia e Questão Agrária; 5º Sobre Fé e Ensino Social da Igreja. São Leopoldo: Casa Leiria, 2021. Para acesso ao material digital: https://olma.org.br/textos-e-artigos/.

Destaco o trecho: “O projeto é também um preito de memória e homenagem ao Padre Thierry Linard de Gueterchin SJ, falecido em 30/01/2022. Como registram Eduardo Lemos e Ana Paula Barbalho, no artigo citado – (https://brasilpopular.com/dialogos-de-justica-e-paz/).-, Padre Thierry integrou a Comissão Justiça e Paz de Brasília (CJP-DF) e foi o inspirador do OLMA e do projeto Diálogos em Construção, tendo se tornado amado irmão, amigo, companheiro, como os seus colegas nesses projetos o consideravam, mas que são também prova dessa fraternidade, amizade e companheirismo a esse belga que veio para o Brasil com 31 anos e daqui não mais saiu – a não ser em viagens sazonais, para se encontrar com a família, para estudos e serviços de sua Ordem –, [conforme] as inúmeras mensagens, depoimentos, necrológios que, logo que se teve a notícia de sua páscoa definitiva, começaram a circular intensamente”.

Afinal, certifica Maria Lucia Fattorelli, “O Padre Thierry sempre se demonstrou um intelectual vívido e ativo em qualquer oportunidade, seja na missão de pensar os problemas e soluções de nossa sociedade, mas também na simplicidade de raciocínios no exercício de seu encargo, com uma aura imaginativa e concreta. As diversas homenagens e reconhecimentos recebidos ao longo da trajetória, bem como no momento de sua partida, atestam a quão abençoada e produtiva a sua vida se tornou. O Grupo de Análise de Conjuntura da CNBB, após a Páscoa do Pe. Thierry, um de seus integrantes, propôs mudar a sua denominação para Grupo de Análise de Conjuntura da CNBB – PADRE THIERRY LINARD, em fevereiro de 2022. A mudança foi imediatamente aceita pela Presidência da CNBB”.

No meu aprendizado junto a esse Grupo de escol, cada encontro – virtual ou presencial – é um ganho existencial, de companheirismo, de comunhão. Não bastasse as luzes que tantas inteligências reunidas projetam, elas são focos para a uma elaboração que tem lastro num manancial caudaloso de exortações, encíclicas, declarações reunidos e organizados num ensino de séculos, de grande inspiração quando não proféticos.

As Análises procuram afluir desses ensinamentos e não perder a chave de leitura que liga a cidade dos homens à cidade de Deus. A começar pelos documentos pontifícios e, tesouro dos tesouros, aqueles que procedem do Papa Francisco. Neste caso, é ele próprio quem diz (o que está lançado na Análise preparada para o mês de março encaminhada para os bispos reunidos): “O Espírito Santo, acolhido no coração e na vida, não pode deixar de abrir, mover, fazer sair; o Espírito sempre impele a comunicar o Evangelho, a sair, com a sua imaginação inesgotável. Cabe a nós ser dóceis e colaborar com Ele, sem jamais esquecer que o primeiro anúncio é feito com o nosso testemunho de vida! Do que adianta fazer longas orações e cantar lindas canções se não tivermos paciência com o próximo… A caridade concreta e o serviço no anonimato é sempre a prova do nosso anúncio.”.

Ao fim e ao cabo, é o que se extrai do conteúdo e de tudo o que professa o agora denominado Grupo de Análise de Conjuntura Social – padre Thierry Linard, e que pode ser conferido neste Análises de Conjuntura (2020-2022), aqui Lido para Você. Oferecer um serviço, que é um processo que resulta em construir comunhão, antes de tudo conforme exorta o Papa Francisco, “entre si, no âmbito do movimento, mas também nas paróquias e dioceses”. Essa construção é desafiadora, convoca a discernir sobre missão e evangelização, mas nos convoca a atenção sobre externalidades que nos confundem porque nos dividem.

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