A Páscoa como memória e a ressurreição como símbolo do caminho para a justiça e a paz

Por: Ana Paula Daltoé Inglêz Barbalho (*) – Jornal Brasil Popular/DF

A mensagem do Papa Francisco Urbj et Orbi da Páscoa de 2023 é um convite à busca da justiça e da paz.

A mensagem inicia com “Queridos irmãos e irmãs, Cristo ressuscitou!

Hoje proclamamos que Ele, o Senhor da nossa vida, é «a ressurreição e a vida» (Jo 11, 25) do mundo. É Páscoa, que significa «passagem», porque, em Jesus, realizou-se a passagem decisiva da humanidade, ou seja, a passagem da morte à vida, do pecado à graça, do medo à confiança, da desolação à comunhão.”

Percebo nesse trecho a ressignificação simbólica da morte infame, da injustiça a que Jesus foi submetido, à certeza de que se consolidou um novo momento da humanidade. Seria a memória da Páscoa e da ressurreição como um caminho simbólico da transformação da humanidade. Não à toa se repete a memória da Páscoa anualmente.

O julgamento injusto do inocente tem a memória reavivada.

O crucifixo é parte do processo de memória.  Ao olharmos para ele, temos a lembrança do inocente que sofreu e morreu. E que, após a passagem, ressuscitou.

Estaria ali o símbolo da injustiça a reafirmar e relembrar a necessidade do compromisso com a justiça, com a legitimidade do julgamento correto, com a intenção de fazer justa à justiça.

A humanidade e seus símbolos carregam

o tema da Justiça e da Paz como sendo importantíssimo para as sociedades. Por esse motivo, a Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas, entidade criada em 1945 com objetivo de unir todas as nações do mundo em prol da paz e do desenvolvimento, com base nos princípios da justiça, dignidade humana e no bem-estar de todos, reafirmou seu compromisso ao estabelecer um de seus 17 Objetivos do Desenvolvimento Sustentável a busca por justiça e paz. O ODS 16, com enunciado “Promover sociedades pacíficas e inclusivas para o desenvolvimento sustentável, proporcionar o acesso à justiça para todos e construir instituições eficazes, responsáveis e inclusivas em todos os níveis“- resguarda, em suas submetas a serem atingidas até 2030, a promoção da Justiça e da Paz.

A mensagem do Papa Francisco Urbj et Orbi da Páscoa de 2023, para além do comentário evangélico dedicado à conversão, reporta os principais conflitos em curso e convida a busca pela paz:

“Apressemo-nos a superar os conflitos e as divisões, e a abrir os nossos corações aos mais necessitados. Apressemo-nos a percorrer sendas de paz e fraternidade.”

A percepção precisa do Papa sobre os principais conflitos entre as nações configura-se em admoestações sinceras de conversão evangélica, repletas de esperança na superação dos distanciamentos que geram os conflitos.

O Papa cita nominalmente Ucrânia, Rússia, Comunidade Internacional, Turquia, Síria, Jerusalém e região, Líbano, Tunísia, Haiti, Etiópia e no Sudão do Sul, República Democrática do Congo, Nicarágua e Eritreia, Burkina Faso, Mali, Moçambique e Nigéria, Myanmar, e o povo roynga.

Se dirige àquele que sofre:

“Confortai os refugiados, os deportados, os prisioneiros políticos e os migrantes, especialmente os mais vulneráveis, bem como todos aqueles que sofrem com a fome, a pobreza e os efeitos nocivos do narcotráfico, do tráfico de pessoas e de toda a forma de escravidão.”

Indica os fundamentos que servem de baliza aos governantes, em um caminho concreto de transformação:

“Inspirai, Senhor, os responsáveis das nações, para que nenhum homem ou mulher seja discriminado e espezinhado na sua dignidade; para que, no pleno respeito dos direitos humanos e da democracia, se curem estas chagas sociais, se procure sempre e só o bem comum dos cidadãos, se garanta a segurança e as condições necessárias para o diálogo e a convivência pacífica.”

A mensagem, que é entremeada de elementos evangélicos, é também um diagnóstico completo das principais feridas coletivas e individuais, dos temas que precisam ser trabalhados para que seja possível atingir a plenitude e a paz.

Ela finaliza com o desejo sincero de um novo momento: “Vós, Senhor da vida, encorajai os nossos caminhos e repeti, também a nós, como aos discípulos na noite de Páscoa: «A paz esteja convosco» (Jo 20, 19.21).”

(*) Por Ana Paula Daltoé Inglêz Barbalho, advogada, bióloga e mestre em Biologia Animal pela Universidade de Brasília, vice-presidente da Comissão Justiça e Paz de Brasília.

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