A Juventude é a semente de um futuro de Justiça e Paz

por Carla Lisboa em 3 de setembro de 2023

Juventude provém do latim “Juventus”, que significa tanto “jovem” como também “origem” ou “recente”.A Psicologia entendepor juventude a idade entre a infância e o desenvolvimento do organismo humano de forma plena. Já para fins estatísticos, as Nações Unidas definem a “juventude” pelo grupo etário composto por pessoas entre os 15 e os 24 anos, podendo variar a faixa etária dos jovens em diferentes contextos.Por exemplo, as “crianças” são pessoas com menos de 14 anos, conforme esta definição. No entanto, se consideramos o Artigo 1 da Convenção das Nações Unidas sobre os Direitos da Criança, “crianças” são pessoas até a idade de 18 anos.

Representando um quarto da população global, os jovens celebraram em 12 de agosto de 2023 o Dia Internacional da Juventude. Na América Latina e Caribe, são mais de 165 milhões de pessoas consideradas jovens. Eles e elas estão influenciando o rumo do desenvolvimento social e econômico, desafiando normas e valores sociais, e construindo a base do futuro do mundo.

Para milhões de jovens em todo o mundo, o contexto atual envolve violências de várias formas. Guerras, marginalização, exclusão social, vulnerabilidades e violações de direitos humanossão desafios que precisam ser discutidos para serem superados individual e coletivamente. O uso de substâncias psicoativas, como bebidas alcoólicas e drogas, a preocupação com o suicídio, o aprendizado para as funções da vida adulta, como lidar com finanças, as ameaças e as oportunidades da tecnologia através das redes sociais, a garantia de direitos relativos à sexualidade, o cuidado com o bem-estar e a saúde mental, as perspectivas de mudança de vida, as questões familiares e a construção do próprio futuro permeiam o repertório de desafios dos jovens.

Embora haja um cenário de adversidade, os jovens persistem no sonhar e no semear um futuro de Justiça e Paz. Adolescentes e jovens sonham, imaginam e esperam um mundo melhor. É fundamental tornar os jovens sujeitos capazes de refletir, de ter suas próprias posições e ações, e, portanto, serem donos de seu futuro. Além de estarem atentos ao futuro constituem parte importante do presente do mundo e da sociedade: “não podemos limitar-nos a dizer que os jovens são o futuro do mundo: são o presente, estão a enriquecê-lo com a sua contribuição” (Papa Francisco, ChristusVivit, 64). Os jovens, mesmo com as dificuldades, sonham com esperança e, ao mesmo tempo, são o agora de Deus, o agora da humanidade que caminha.

”Quais são as <<pressas>>  que vos movem, queridos jovens?”; com esta exortação o Papa Francisco convida os 1,8 bilhão de adolescentes e jovens de 10 a 24 anos no mundo inteiro a fazerem parte do grande movimento da juventude que pensa sobre seu presente, seus projetos, futuro, sonhos, oportunidades e direitos.

Apesar dos progressos assistidos,seguem sendo negados a muitos adolescentes – sobretudo as meninas – os investimentos e as oportunidades de que precisam para alcançar todo seu potencial. Um exemplo desta situação é o fato de que, no Brasil, 12,8% dos jovens de 15 a 17 anos de idade não estão estudando, segundo o IBGE, e muitos outros se encontram desempregados.Importante destacar também que a maior parte dos jovens no Brasil que sofrem a pobreza são negras e negros, segundo o Censo de 2022, que mensurou a presença destes jovens, com idade entre 15 e 29 anos, em aglomerados subnormais.

O Atlas da Violência 2020, publicado pelo IPEA em https://www.ipea.gov.br/atlasviolencia/download/24/atlas-da-violencia-2020, retrata o racismo estrutural e as desigualdades sociais e raciaisbrasileiras: 30.873 jovens negros e negras foram mortos em 2018, significando uma taxa de 60,4 homicídios a cada 100 mil jovens e 53,3% do total de homicídios no país. A morte prematura destes jovens, com idade entre 15 e 29 anos,escancara uma relação de vulnerabilidade e racismo que uma parcela da população brasileira e pobre tem sofrido. Um verdadeiro genocídio da juventude negra.

A consciência de uma pluralidade de mundos juvenis, a conexão entre os jovens do mundo inteiro, ligados pelos novos meios de comunicação e num mundo globalizado, impulsionam o progresso social e influenciam diretamentesuas vivências. Isso significa reconhecer as múltiplas juventudes e que diferentes oportunidades e desafios são moldados pela classe social, pela cor e pelo gênero desses jovens.

Ocenário nos traz uma oportunidade histórica: pensar o desenvolvimento, a inserção no mercado de trabalho, respeito ao meio ambiente e direitos da juventude.E os escritos do Papa Francisco, preocupado com os problemas atuais, tem destacado temas importantes, como é o caso da Laudato Sihttps://www.vatican.va/content/francesco/pt/encyclicals/documents/papa-francesco_20150524_enciclica-laudato-si.html, da Fratelli Tuttihttps://www.vatican.va/content/francesco/pt/encyclicals/documents/papa-francesco_20201003_enciclica-fratelli-tutti.html, e daexortação apostólica ChristusVivithttps://www.vatican.va/content/francesco/pt/apost_exhortations/documents/papa-francesco_esortazione-ap_20190325_christus-vivit.html. Ambas nos convocam para olhar o futuro e projetar um mundo melhor, pacífico e com mais justiça.Várias abordagens dessa perspectiva se traduziram em ações concretas como o Compromisso com a Sustentabilidade, a introdução aos princípios da Economia de Francisco e Clara, e da Ecologia Integral, entre outras.

A Jornada Mundial da Juventude 2023, convocada pelo Papa Francisco, e que teve lugar em Lisboa, Portugal, teve como tema o versículo: “Maria levantou-se e partiu apressadamente” (Lc 1, 39). A pressa da jovem mãe de Jesus traduz tantas pressas das juventudes que enfrentam as dificuldades, mas que nunca deixam de sonhar.

Eu, Gabriel, estive na JMJ; isso foi um presente. E algo que quero destacar são os discursos do Papa Francisco, palavras simples e profundas que me marcaram. Ao sermos acolhidos, na Colina do Encontro, a primeira emoção forte foi poder ver de perto a figura de um ser humano que transmite tanta paz e esperança. Do seu discurso, cheio de ternura e aconchego, duas palavras me chamaram a atenção: a) “Vocês foram chamados pelo nome; não somos chamados automaticamente; Jesus nos chamou pelo nome. São palavras escritas no coração e Ele nos chama porque somos amados como somos, sem maquiagem”; b) “Na Igreja há espaço para todos. Para todos. Ninguém sobra. Há lugar para todos!” Francisco nos fala de um Deus que ama e chama e uma Igreja que é Mãe que acolhe a todos. Uma sensação incrível a de saber que a fé que professamos tem sentido e pode ser, ainda hoje, sinal de acolhida e caridade, sobretudo aos jovens que tanto necessitam e buscam tais sinais de esperança.

Na Vigília, no Campo da Graça, numa noite de sábado, mais de 1 milhão de jovens do mundo inteiro, ficaram num silêncio admirável, para ouvir o Papa Francisco falar de pressa, de alegria, de raízes, de apoio mútuo. A pressa de Maria que não titubeia em sair para servir; a alegria dela que a move, uma alegria missionária; as raízes daqueles que, em nossa história, foram luz e que hoje nos inspiram a difundir essas alegrias para todos os cantos; a ajuda daqueles que, vendo os caídos, se põem não na posição de um poder que, de cima, oprime, mas o apoio daqueles que se abaixam para erguer os que tem dificuldades de levantar-se das quedas no caminho. Enfim, palavras de uma noite cheia de luz, uma Vigília cheia de movimentos, encontros, decisões. Uma noite que, como disse Francisco, nos convidou a caminharmos com passos firmes na vida.

O domingo, num clima de despedida e gratidão, foi um dia singular. A Eucaristia que marcava o fim de dias cansativos, porém felizes e intensos, foi um espaço para escutarmos as últimas palavras daquele encontro importante. O Papa nos convidou a sermos resplandecentes e luminosos, mas não a luz que vangloria e ensoberbece e que nos distancia dos outros, mas sim uma luz que brilha quando fazemos obras de amor e quando aprendemos a amar como Jesus. Os discursos de Francisco, juntamente com as experiências daqueles dias em Lisboa, foram inspiração que motiva a seguir em frente e luz que ajuda a discernir caminhos num mundo com feridas, num Brasil que tem jovens em realidades tão distintas. Nas últimas frases, já no fim da Celebração, o Papa afirmou que Lisboa foi, naqueles dias, “Casa da Fraternidade e Cidade de Sonhos”. Trago no meu coração a certeza de que, com tantas línguas, culturas que se encontraram, sementes de fraternidade foram plantadas e sonhos foram reacendidos nos corações de muitos de nós que, atentos e sensíveis, pudemos estar num momento tão lindo e marcante.

Na esteira da Jornada Mundial da Juventude 2023, o “Diálogos de Justiça e Paz” de setembro pretende discutir os avanços e os retrocessos relacionados à juventude no próximo dia 04 de setembro, com os convidadosDaniel de Oliveira e Gabriel Pacheco, representando a Rede Inaciana da Juventude – MAGIS BRASIL e Ângela Amaral, do Levante Popular da Juventude DF do Movimento Brasil Popular. O Diálogos acontece na próxima segunda-feira (04), às 19h, de forma híbrida. A mediação será conduzida por Ana Paula Inglêz Barbalho.

O “Diálogos de Justiça e Paz” é uma parceria entre o Observatório Nacional de Justiça Socioambiental Luciano Mendes de Almeida (OLMA), a Comissão Justiça e Paz de Brasília (CJP-DF), o Centro Cultural de Brasília (CCB) e a Comissão Brasileira de Justiça e Paz (CBJP).

Interessados podem participar também presencialmente, no auditório do CCB, SGAN 601 Módulo “D – Asa Norte, Brasília – DF, às 19h, ou acompanhar pelo canal do YouTube do OLMA@OLMAObservatorio.

(*) Por  Gabriel Araújo Pacheco, colaborador da Rede Inaciana da Juventude – MAGIS BRASIL, e  Ana Paula Inglêz Barbalho, Vice-presidente da Comissão Justiça e Paz de Brasília

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