Visibilidade negra: um incômodo para os racistas

Por Vital Alves                                       

O Brasil não fabrica apenas craques futebolísticos, o país do futebol também produz uma série de craques em diversas outras áreas, para além do mundo da bola. Pretendo tratar aqui de um exímio jogador de futebol da atualidade com o intuito de abordar um assunto bastante desagradável (para dizer o mínimo), mas não me deterei apenas ao craque da pelota. Ao invés de me dedicar unicamente a um habilidoso atleta, minha intenção primeira é discorrer sobre outro craque brasileiro, um craque da fotografia. Antes de nomear esses craques, penso que seja apropriado expor algumas palavras iniciais. Começo então tratando da arte da fotografia para mais adiante ocupar-me do jogador de futebol.  

Vital Alves

Parece um consenso reconhecer a fotografia como uma das grandes invenções da humanidade bem como sua peculiaridade de registar em imagens momentos especiais desejando torná-los eternos. Apesar da invenção da fotografia não ser propriamente resultado da obra de um único autor, e, sim, um processo marcado por avanços tecnológicos e pela contribuição de inúmeras pessoas, especialmente entre o final do século XVIII e meados do século XX, costuma-se atribuir ao francês Joseph Nicéphore Niépce a autoria da primeira fotografia registrada no ano de 1826. Uma vez que Niépce começou suas experiências fotográficas, isto é, a busca por lograr imagens permanentes capturadas por meio de uma câmera escura, em 1793. 

À exceção de ser uma expressão artística, a fotografia é considerada um recurso documental, cultural e jornalístico, na medida em que grava acontecimentos históricos e culturais decisivos e talvez essa seja uma das maiores contribuições que ela tem a oferecer para a sociedade. A fotografia pode ainda ser entendida como um recurso pedagógico e, ao mesmo tempo, um instrumento político, pois, por meio de suas reproduções não somos apenas capazes de adquirir conhecimento como, além disso, podemos nos sentir estimulados a olhar a realidade, interpretá-la e agir politicamente. A fotografia nos fornece, portanto, aprendizagens, leituras e visões possíveis que podem auxiliar a nossa compreensão a respeito de fatos sociais e políticos. Possivelmente essas características podem nos dizer um pouco sobre o que é a fotografia e algumas de suas prováveis funções.

Se, no âmbito do futebol, historicamente o Brasil produziu craques incontestáveis como Pelé e Garrincha, e, mais recentemente jogadores altamente talentosos como Richarlison e Vinícius Junior, no campo da fotografia, sem dúvida, entre os vários talentos que poderiam ser destacados, Sebastião Salgado e Walter Firmo ocupam o rol dos fotógrafos brasileiros contemporâneos mais competentes e perspicazes. Em meio a esses talentos brasileiros, daqui por diante me concentrarei somente nas figuras de Walter Firmo e Vinícius Junior ou Vini Jr., como é conhecido. Iniciarei pelo craque da fotografia.

Walter Firmo (foto: Joédson Alves/Agência Brasil)

Negro por definição e convicção, o fotógrafo Walter Firmo, filho de um casal de paraenses, nasceu e cresceu em Irajá, berço dos subúrbios cariocas. Nesse ambiente suburbano, Firmo concebeu durante a infância e a adolescência um olhar especialmente direcionado para a produção de um registro vasto e magnânimo para a população negra do Rio de Janeiro e do resto do país. Esse olhar encantador voltado para tal população, que pode ser conferido em suas fotografias, abrange a vida cotidiana, os afetos, as religiosidades e suas cerimônias e festas. Não seria exagero afirmar que a obra de Firmo – construída ao longo de uma história de 70 anos – se apresenta como uma espécie de hino à dignidade, honradez e resistência da população negra e à diversidade de suas expressões e manifestações culturais. A sua obra nos coloca em face de realidades admissíveis e aponta para trilhas a serem percorridas. Provavelmente, devido a isso, vários de seus retratos, como os de Candeia, Cartola, Clementina de Jesus, Dona Ivone Lara, Ismael Silva e Pixinguinha conquistaram a condição de clássicos dos retratos brasileiros, e são denominados pelo próprio Firmo como “ícones do povo”.

O termo “ícone”, cumpre elucidar, tem sua origem na seara do religioso, refere-se a alegorias de culto ou veneração, e, como bem sublinha Nicole Fletwood, especialista em abolicionismo e arte contemporânea negra da diáspora e cultura visual, não são somente “uma representação do sagrado, mas elas mesmas um modo de oração”. Em sua percepção, os ícones negros que granjeiam na cultura popular o título de “celebridades” e se mantêm no domínio cultural, se inscrevem como “parte da produção” e difusão de “uma narrativa racial” em constante disputa.

Pixinguinha, na icônica foto de Walter Firmo

No início do século XXI, Walter Firmo rescinde a fronteira de seu ativismo individual tão peculiar à sua trajetória e firma uma significativa parceria com Zózimo Bulbul. Firmo colabora como diretor de fotografia no curta-metragem “Pequena África” concepção e direção de Bulbul. O curta apresenta a praça XI, a Central do Brasil, Gamboa, Saúde e o bairro de Santo Cristo de hoje, e que eram conhecidos nos idos de 1850 até 1920 como “pequena África” por terem sido locais habitados por escravos alforriados no período colonial. Um dos momentos mais impressionantes do curta-metragem consiste na referência ao Cais do Valongo – Cais erguido em 1811 pela Intendência Geral de Polícia da Corte do Rio de Janeiro, foi construído com o objetivo de retirar da Rua Direita, atual Rua Primeiro de Março, o desembarque e o comércio de africanos escravizados que eram conduzidos para as plantações de café, fumo e açúcar do interior do Rio e de outras regiões do Brasil. Os africanos que permaneciam na capital, se tornaram em sua grande maioria escravos domésticos ou eram utilizados como força de trabalho nas obras públicas.

Pelé, pela lente de Walter Firmo

O Cais do Valongo foi o principal porto de entrada de africanos escravizados no Brasil e nas Américas (Segundo dados do IPHAN). Em 2017, foi incluído na Lista do Patrimônio Mundial da Organização das Nações Unidas para a Educação e Cultura da UNESCO. Mediante esse Cais, o Brasil chegou a receber cerca de quatro milhões de escravos, ao longo de três séculos de duração do regime escravagista. Isso significa que por meio desse Cais, situado na região portuária do Rio de Janeiro, passaram aproximadamente um milhão de africanos escravizados durante 40 anos, número de escravos que tornou o Cais no maior desembarcadouro recebedor de escravos do mundo. A inclusão do Cais do Valongo na mencionada lista da UNESCO, como ressalta o IPHAN, expressa:

“o reconhecimento do seu valor universal excepcional, como memória da violência contra a Humanidade representada pela escravidão, e de resistência, liberdade e herança, fortalecendo as responsabilidades históricas, não só do Estado brasileiro, como de todos os países membros da UNESCO. E, ainda, o reconhecimento da inestimável contribuição dos africanos e seus descendentes à formação e desenvolvimento cultural, econômico e social do Brasil e do continente americano”.

Retomando ao fotógrafo Walter Firmo,cabe destacar que Zózimo Bulbul foi o criador do Centro Afro Carioca de Cinema e do Encontro Negro Brasil, África, Caribe e outras Diásporas. A parceria estabelecida entre Firmo e Bulbul consiste em uma ação política de extrema relevância de ambas as partes. No ano de 2002, ano do lançamento do curta-metragem, Firmo e Bulbul já eram reconhecidos como representantes da afrovisualidade respectivamente na fotografia e no cinema. Algo que, visto hoje pelo retrovisor, tem um significado notável, sobretudo porque, no âmbito político, a discussão pelas cotas disputava espaço no contexto público, e elas estavam começando a ser efetivadas em algumas Universidades públicas. Assim, regressar à “pequena África” soa como um movimento ímpar, significando uma espécie de regresso àquele que pode ser tido o ponto de partida para a maioria de nós negros brasileiros ao desembarcar nesse lado do Atlântico. Estabelecida a importância da fotografia de Walter Firmo e sua contribuição com o curta-metragem “Pequena África”, antes de tratar da figura de Vini Jr., acredito ainda ser relevante expor um episódio pessoal da vida do fotógrafo.

A cultura afrobrasileira é tema frequente na fotografia de Walter Firmo

Firmo estava com 30 anos quando foi trabalhar como correspondente da Editora Bloch em Nova York. Em uma ocasião, o chefe de redação compartilhou com Firmo uma mensagem que havia recebido de um jornalista no Brasil; a mensagem expressava não compreender os motivos da Editora ter enviado para Nova York como correspondente “um mau profissional, analfabeto e negro”. A atitude adotada por Firmo perante essa nítida manifestação de racismo foi a de indignar-se e engajar-se diretamente ao slogan black is beautiful (negro é lindo, lema criado pelo partido dos Panteras Negras nos anos 60, o slogan aparece como um enaltecimento político da beleza preta. Já naquele contexto os Panteras compreenderam a autoestima como uma mola propulsora para o empoderamento e a tonificação da imagem da população negra). Black is beautiful  pôde ser constatado em Firmo de duas maneiras: imediatamente “em seu próprio corpo” ao adotar “o penteado afro” e em sua fotografia ao erigir, nos últimos 50 anos, “uma das mais belas trajetórias visuais dedicadas à população negra em todo o mundo”. Sobre esse episódio, em 2011, Walter Firmo declarou para a “Gazeta do Povo”:

“Era época da pílula, dos Beatles, do Woodstock, do ‘negro é bonito’. Deixei meu cabelo crescer, e começou a parte política do meu trabalho. Fui para as ruas, para as fábricas, para as festas profanas e para os músicos, sempre dando ênfase para a negritude. Mas minha postura nunca foi de usar o verbal, discursar em uma mesa. Trabalho numa linguagem muda. A fotografia se apropria disso. Através da sutileza, posso fazê-la gritar”.

Passo agora para o nosso segundo craque, um craque da nova geração do futebol brasileiro: Vinícius Júnior ou simplesmente Vini Jr., ponta-esquerda que atualmente joga no Real Madrid. Nascido no município de São Gonçalo, Rio de Janeiro, de origem familiar humilde, Vini Jr. ingressou na categoria de base do Flamengo aos 10 anos. Nessa fase, já era visto como destaque da base do time Sub-13 e impressionava a todos com sua velocidade e seus dribles desconcertantes, obtendo o status de “futuro craque”. Após brilhar no infantil, Vinícius Junior subiu à categoria juvenil repetindo o êxito. Apesar de ser um ano mais novo do que o limite estabelecido pela categoria, o jogador assumiu o papel de protagonista do time, chegando a marcar 10 gols, atuando como eminente assistente da competição e integrando uma parte fundamental de um ataque que chegou a atingir a marca de mais de 52 gols no Campeonato Carioca Sub-17, de 2016, no qual o Flamengo se saiu vitorioso.

Walter Firmo recebe o beijo de uma cubana (foto: Inntacta Retina)

Em 2017, Vinícius Júnior alcançou popularidade ao participar pela primeira vez da Copa São Paulo de Futebol Junior, e, novamente, apesar da idade inferior à permitida, conquistou evidência no torneio, tornando-se a estrela da classificação do Flamengo para as Quartas de Final da competição ao marcar de peito o gol decisivo que deu ao Rubro-Negro a vitória de 2 a 1 sobre o Cruzeiro. Nessa época, a habilidade de Vinícius Júnior não chamava a atenção apenas de outros clubes brasileiros, mas de grandes clubes europeus como Barcelona e Real Madrid, que demonstravam clara disposição em contratá-lo. Nesse mesmo ano, as vésperas de completar 17 anos, Vini Jr. estreou no time profissional do Flamengo, porém, na sua segunda partida como profissional, o time da Gávea anunciou sua venda para o Real Madrid, por 45 milhões de euros, considerada a 2º maior venda da história do futebol brasileiro. Mesmo a negociação sendo efetivada entre o clube brasileiro e o espanhol, o jogador permaneceu no Flamengo até completar 18 anos, uma vez que na Espanha não se permite o registro profissional de estrangeiros abaixo dessa idade.

Em 2018, atingindo a maioridade, Vinícius Júnior realizou seu primeiro jogo oficial pelo Real Madrid, clube que permanece atuando. Em resumo, no Real Madrid, de 2018 a 2023, Vini Jr. vem se notabilizando como um dos principais jogadores do time e se consagrando como um dos melhores jogadores do mundo. Já marcou 60 gols pelo Real Madrid, sendo que, o mais relevante foi o que ele marcou na final da Champions League contra o Liverpool, no ano de 2022, que rendeu ao Real o seu 14º título na competição mais importante disputada por clubes europeus. Nas quatro temporadas que vem atuando pelo Real Madrid, Vinícius Júnior soma oito títulos conquistados: dois Mundial de Clubes FIFA, respectivamente em 2018 e 2022; duas Supercopas da Espanha, temporadas de 2019/2020 e 2021/2022; dois Campeonatos Espanhóis, na devida ordem 2019/2020 e 2021/2022; e ter sido campeão da UEFA Champions League 2021/2022 e da Copa do Rei da Espanha 2022/2023. Entretanto, a notoriedade de Vini Jr. na Espanha não tem sido explorada apenas pelas conquistas de campeonatos; infelizmente ele vem adquirindo notoriedade também por outros motivos.

Vini Junior (reprodução Getty Images)

Recentemente, no dia 21 de maio, durante o jogo entre Real Madrid e Valência, no Estádio Mestalla, casa do Valência, Vinícius Júnior foi alvo de uma enxurrada de ataques e ofensas racistas. Mesmo antes do início da partida, a torcida do Valência já entoava “coros” que chamavam Vini Jr. de “macaco”. Os coros foram crescendo durante o jogo e, no segundo tempo, esgotado pelas agressões, o jogador brasileiro parecia ter chegado ao seu limite de tolerância quando se dirigiu às proximidades da arquibancada e apontou para dois torcedores que estavam praticando atitudes racistas contra ele. O árbitro interrompeu a partida por alguns minutos e os alto-falantes do estádio transmitiram aos torcedores um “pedido” para que suspendessem os insultos racistas. Nos derradeiros minutos da partida, um rebuliço entre os jogadores de ambos os times ocasionou a expulsão de Vinícius Júnior (não cabe aqui indagar se houve ou não razoabilidade na expulsão de Vini Jr.). Encerrada a partida, nas redes sociais, o futebolista publicou a seguinte frase: “(…) eu sou forte e vou até o fim contra os racistas. Mesmo que longe daqui”. No dia seguinte, o presidente Lula, a Ministra da Igualdade Racial Anielle Franco e outras autoridades expressaram apoio ao jogador brasileiro e o episódio praticamente gerou um estremecimento diplomático entre Brasil e Espanha. Os ultrajes racistas sofridos por Vinícius Júnior no jogo contra o Valência não foram, lamentavelmente, os primeiros, e demarcam um estágio já avançado de um processo de constantes ataques contra o jogador brasileiro.

Observando a atitude do craque Vini Jr. contra os racistas espanhóis e ao recapitularmos o ânimo do fotógrafo Walter Firmo ao assumir uma postura combativa contra o racismo a partir da valorização dos negros em sua arte, uma pergunta se faz necessária: por que os ataques racistas sofridos por esses craques brasileiros foram disparados de forma tão explícita e despudorada?

Elucidemos a resposta com constatações, históricas: a Espanha colonizou, escravizou e dizimou populações não só nas américas do Sul e Central como igualmente no Continente Africano. O Brasil (último país do continente americano a abolir a escravidão) durante muito tempo difundiu o mito da democracia racial ao invés de confrontar a mentalidade escravagista que permeia diversos setores da sociedade brasileira. Assim, pode-se considerar que a visão imperialista espanhola e as tentativas de escamotear a hipocrisia brasileira acerca do racismo contribuíram para a formulação de concepções de sociedades nas quais o lugar do negro parece estar bem definido, isto é: seu lugar é o da servidão. Sua posição é a de serventia e a da sujeição, ou seja, a de se subordinar ao branco e servi-lo, seja ele europeu ou brasileiro.

Ocorre que o protagonismo de Firmo e Vini Jr., manifestado por seus talentos na fotografia e no futebol, suscita uma ruptura com essa concepção que busca fixar o negro em um lugar de submissão e insiste em limitá-lo a tal lugar e instância. Os talentos desses craques brasileiros são inequívocos e amplamente reconhecidos, as habilidades desses craques brasileiros dão visibilidade à negritude. Parece que ao operarem essa ruptura e conquistarem proeminência internacional, eles geram incômodos. Arrisco-me a dizer, contudo, que as atitudes racistas sofridas por Firmo e Vini Jr. não se encontram ligadas apenas a esse fator, mas concomitantemente a outro aspecto. Explico.

Walter Firmo (foto reproduzida do Portal dos Jornalistas)

A obra fotográfica de Walter Firmo não deve ser compreendida como um mero discurso singelo de “exaltação à brasilidade e à cultura popular” integrando nela a “mestiçagem brasileira”. Em contrapartida, suas fotografias retratam o que o Brasil fez de si mesmo em circunstâncias severas e graves de racismo e de desigualdade. Muito mais do que uma anamnese do Brasil, a fotografia de Firmo pode ser entendida como uma espécie de “patrimônio da diáspora negra”, como salienta Suely Carneiro. Já o talento e o profissionalismo futebolístico de Vinícius Júnior, por sua vez, isto é, sua capacidade de oferecer assistências ou passes para completar as jogadas, seus chutes quase sempre certeiros e eficientes conclusões, além de suas fintas primorosas, características que vêm transformando-o em um jogador praticamente completo, bem como seu estilo de cabelo black e a força simbólica que imprime a cada gol marcado, ou seja, suas comemorações com danças inspiradas em funkeiros, sambistas brasileiros, cantores latinos de reggaeton e dos pretos americanos. Danças essas que igualmente foram alvo de injúria racial, quiçá não devam ser entendidas apenas como uma comemoração, porém, mais do que isso uma celebração da negritude e da diversidade cultural, como o craque brasileiro já afirmou. Paralelamente Vini Jr. rebate os racistas ao avisá-los: “Aceitem, respeitem ou surtem. Eu não vou parar”.

Walter Firmo (reprodução do site da Prefeitura de Juiz de Fora)

Os ataques racistas endereçados explicitamente a Firmo e Vini Jr., não se restringem ao fato da ruptura que eles promovem retirando o negro do lugar de servidão e conferindo visibilidade à negritude; o maior incômodo para os racistas parece ser o da constatação de que a visibilidade de negros como Firmo e Vinícius Júnior traz consigo uma ação política que repousa na afirmação e na demonstração de amor à negritude, uma ação que rejeita a regra peculiar as sociedades racistas: o ódio ou o auto-ódio, como Bell Hooks busca demonstrar em seus trabalhos. Nos espaços conquistados à custa de seus talentos e competências, mas também de oportunidades que lhes foram dadas, Firmo e Vini Jr., confirmam o orgulho de serem negros e afirmam a negritude com firmeza e amorosidade; em ações políticas conscientes que se opõem, inclusive, ao ódio que alguns negros sentem por si mesmos (devido a um processo cultural e educacional que fomenta a negação e o ódio à negritude) e ao ódio que os racistas despejam contra os negros. Seguindo ainda os vestígios teóricos de Bell Hooks, adquirir amor à negritude envolve a realização de um itinerário obrigatório de cura, portanto, desfazer-se do ódio é crucial para a afirmação da negritude e o combate ao racismo. Nesse sentido, as ações políticas conscientes de Firmo e Vini Jr. corroboram uma resistência perante uma sociedade maculada pelo racismo.

Vital Alves

Escritor e Filósofo

Doutor em Filosofia – UFG e Pós-doutorando em Filosofia – USP

Autor do livro: Corrupção política e republicanismo – a perda da liberdade segundo Jean-Jacques Rousseau (2020).

REFERÊNCIAS

BULBUL, Zózimo e FIRMO, Walter. Pequena África. Brasil: Documentário, 2002.

CLUBE DE REGATAS DO FLAMENGO. www.flamengo.com.br

FLETWOOD, Nicole. On racial icons: blackness and the public imagination. Rutgers University Press, 2015.

HEDGECOE, John. Guia completo de fotografia. São Paulo: Martins Fontes, 2001.

HOOKS, Bell. Tudo sobre o amor. São Paulo: Editora Elefante, 2021.

INSTITUTO MOREIRA SALLES. www.ims.com.br

IFHAN. www.iphan.gov.br

REAL MADRID CF – www.realmadrid.com

SUELY, Carneiro. Dispositivo de racialidade: a construção do outro como não ser como fundamento do ser. Rio de Janeiro: Zahar 2023.

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