Entidades do Movimento Negro de Mato Grosso emitiram nota de repúdio à denominação de uma operação da Polícia Civil do Estado. Chamada “Março Negro”, a operação visa combater a caça às onças pintadas.
Confira a íntegra da nota das entidades:
Nota em repúdio à denominação “Março Negro” para a operação deflagrada
pela Polícia Civil do estado de Mato Grosso
Nós, representantes dos Movimentos Sociais Negros brasileiros repudiamos,
veementemente a utilização da nomenclatura “Março Negro” para denominar a
operação, por inúmeras razões, dentre as quais:
● com a utilização do termo negro, associa mais da metade da população
brasileira, que é negra e que se declara preta ou parda, à criminalidade,
constituindo-se mais um contributo à dificuldade de superação do racismo e
de suas consequências em nossa sociedade;
● no dia 21 de março é considerado o “Dia Internacional de Combate à
Discriminação Racial”, instituído pela Organização das Nações Unidas (ONU),
por intermédio da Convenção Internacional sobre a Eliminação de Todas as
Formas de Discriminação Racial em memória ao Massacre de Sharpeville,
que ocorreu na África do Sul em 1966. Vale lembrar que que o Estado
Brasileiro promulgou a Convenção Internacional sobre a Eliminação de todas
as Formas de Discriminação Racial por intermédio do Decreto nº 65.810, de 8
de dezembro de 1969.
Não se pode desconsiderar que, ao longo da história, a sociedade brasileira tem
sido estruturada pelo racismo, transformando a população negra em alvo de
violações de direitos, discriminação racial, violência e genocídio. Portanto, o mês de
março, assim como todos os meses do ano, não podem ser marcos de
constrangimentos à dignidade humana dessa população.
As organizações signatárias deste documento se congregaram para promover ações
políticas em seu próprio nome, com base em valores que privilegiam a colaboração,
a ancestralidade, a transparência, o autocuidado, a solidariedade, o coletivismo, a
memória, o reconhecimento e o respeito pelas diferenças, a horizontalidade e o
amor ao próximo e à natureza.
Em defesa da vida e da dignidade humana, exigimos a retratação e a Ilè retirada
denominação “Março Negro” pelas razões expostas e nos colocamo-nos à
disposição para construir uma agenda efetiva de combate ao racismo, começando
pela formação continuada dos servidores/as da segurança pública de Mato Grosso,
a fim de que fatos como este não voltem a ocorrer.
Parabenizamos a Polícia Civil do estado de Mato Grosso pela importante ação em
defesa do meio ambiente e visando coibir crimes contra as onças pintadas.
Assinam:
AIABA – Associação Interdisciplinar Afro-Brasileira e Africana
Centro Cultural Casa das Pretas – MT
Centro Espírita Nossa Senhora da Glória
Coletivo Negro Universitário UFMT
Comissão de Defesa da Igualdade Racial – OAB/MT
Conselho de Políticas de Ação Afirmativa PRAE-UFMT
Conselho Municipal de Promoção de Igualdade Racial
Coordenação Nacional de Articulação de Quilombos –CONAQ
Favela Ativa
Fórum Matogrossense de Pesquisadoras e Pesquisadores em Relações
Étnico-raciais
Grupo de Estudo e Pesquisa em Educação Quilombola/PPGE/UFMT
Grupo de União e Consciência Negra-GRUCON
Ilé Àse Ti Tóbi Ìyá Àfin Òsùn Alákétu
Instituto de Mulheres Negras de Mato Grosso – IMUNE/MT
Instituto de Formação Estudos e Pesquisas de Mato Grosso-IFEP-MT
Instituto Quariterê
Ilè Okowoo Aşè Iyà Lomim’Osa
Mandato Coletivo pela Vida e por Direitos/Vereadora Edna Sampaio
Movimento Negro Unificado (MNU) -MT
Núcleo de Estudos Afro-brasileiro, Indígena e de Fronteira Maria Dimpina Lobo
Duarte – NUMDI
Núcleo de Estudos e Pesquisas sobre Relações Raciais e Educação (Nepre)
RENAFRO Núcleo Arapongas-PR
União de Negras e Negros pela Igualdade (Unegro Pantanal-MT)
Rede MT Ubuntu/Polo Sinop