Diálogos de Justiça e Paz

por Eduardo X. Lemos e Ana Paula D. Inglêz – Jornal Brasil Popular/DF em 21 de março de 2023

No próximo dia 3 de abril, em evento que se iniciará às 19 horas com encerramento às 21 horas, no Auditório do Centro Cultural de Brasília – CCB, SGAN 601 Módulo “D – Asa Norte, serão inaugurados os Diálogos de Justiça e Paz, uma ação coordenada pelo Observatório Nacional de Justiça Socioambiental Luciano Mendes de Almeida – OLMA, a Comissão Justiça e Paz de Brasília – CJP-DF, o Centro Cultural de Brasília – CCB e a Comissão Brasileira de Justiça e Paz – CBJP da CNBB.

A atividade será híbrida, contando com a modalidade presencial e com a retransmissão pelas redes sociais nos canais das entidades do Youtube e do Facebook, e pela TV Comunitária de Brasília e TV Supren, em seus respectivos canais, abertos e comunitários.

Os Diálogos de Justiça e Paz são inovadores. Sempre na primeira segunda-feira de cada mês, às 19h, temas sensíveis à sociedade brasileira serão tratados em um formato de roda de conversa. A inovação surge da parceria entre os organismos coordenadores reunindo as “Conversas e Justiça e Paz “, protagonizadas pela CJP-DF – Comissão Justiça e Paz de Brasília, e os “Diálogos em Construção”, desenvolvido pelo OLMA, trazendo neste contexto uma homenagem ao Padre Thierry Linard de Guertechin SJ, belga que vivia no Brasil desde 1975, e cuja obra é fecunda na promoção do diálogo e do bem comum.

Com a adesão da Comissão Brasileira de Justiça e Paz, da CNBB, que também desenvolve um projeto com discernimento semelhante – Despertar com Justiça e Paz –essasatividades acabaram por construiruma tradição: palestrantes convidados de destaque no cenário nacional, em diálogossobre temas importantes e urgentes como a Ecologia Integral, a Justiça Socioambiental,o Apostolado Social da Igreja e suas interfaces com temas referentes a economia, política, ambientalismo e sociedade civil, com aportes significativos na construção de análise de conjuntura da atualidade. O resultado configura um diagnóstico de riqueza intelectual e técnica, de leitura da realidade e necessidade de transformação da sociedade brasileira, além de substantivo repositório midiático e editorial disponível para consulta.

As Conversas de Justiça e Paz, promovidas pela CJP-D e iniciadas em 2014, no dia 04 de agosto, ocorrendo sempre às  primeiras segundas-feiras de cada mês, no Auditório Dom José Freire Falcão da Cúria Metropolitana, Anexo da Catedral de Brasília – onde circulam os homens e mulheres de boa vontade com os quais se tem a expectativa de um contínuo diálogo, considerando que,apesar da laicidade, a catedral é o primeiro edifício da Esplanada dos Ministérios -, integram iniciativas de ampliação do diálogo entre diferentes setores da sociedade, com especialistas da academia e movimentos sociais, a população e interessados nos mais diferentes temas cujo diálogo é necessário e muitas vezes viabilizado nesses encontros, seguindo a tradição da Comissão, voltada à Justiça e à Paz.

A título de exemplo, relembramos que esta primeira Conversa teve como título Fé, Política e Cidadania, no mês que antecedeu eleições históricas no Brasil – as primeiras após as manifestações de 2013, conhecidas como Jornadas de Junho, quemobilizaram mais de 1 milhão de pessoas em 300 cidades brasileiras e iniciaram com alguns milhares de estudantes protestando contra o aumento da tarifa do transporte coletivo em R$ 0,20 centavos, chegando a construçãodo cenário propício à polarização política experimentada pela sociedade atual.

Os bispos Dom Sérgio da Rocha e Dom Leonardo Steiner, então arcebispo e bispo-auxiliar de Brasília, hoje cardeais em Salvador e Manaus,receberam os palestrantes convidados Marcello Lavenère Machado, da Comissão Brasileira de Justiça e Paz e ex-presidente do Conselho Federal da Ordem dos Advogados; Padre José Ernanne Pinheiro, da Comissão Justiça e Paz de Brasília e Secretário-Executivo do Centro Nacional de Fé e Política – CEFEP; e a Pastora Romi Bencke, da confissão luterana e Secretária-Geral do Conselho Nacional das Igrejas Cristãs do Brasil – CONIC, que iluminaram o tema sob o enfoque do compromisso leigo, pastoral e teológico, orientado pelos valores da ética e da responsabilidade que a fé dos cristãos tem como dever  imprimir à política e à atitude inter-religiosa.

Consulte-se no mesmo sentido o “Diálogos em Construção”, desenvolvido pelo OLMA, que resultaram na Coleção Diálogos em Construção (https://olma.org.br/2022/04/01/lancamento-da-colecao-dialogos-em-construcao/), lançada pelo Observatório de Justiça Socioambiental Luciano Mendes de Almeida (OLMA) e o Centro Cultural de Brasília (CCB). A coleção foi estruturada a partir dos encontros: proposta dialógica para tratar assuntos relevantes para a sociedade brasileira, cujo debate foi praticamente interditado pelo clima de intolerância que tem marcado o país.

Em 5 volumes, organizados pela jornalista Edla Lula, que posteriormente passou a integrar a Comissão Justiça e Paz de Brasília, os livros fazem uma análise em 360º das principais questões que envolvem o Brasil recente, a partir da ótica de especialistas em cinco eixos temáticos que pontuaram o programa Diálogos em Construção entre 2016, a partir do impeachment da presidente Dilma Rousseff e 2021: Política; Economia, Ecologia e Reforma Agrária; Fé e Doutrina Social da Igreja; Sociedade e Pandemia.

Conforme a introdução da Coleção, o filósofo Manfredo de Oliveira; os juristas Gilmar Mendes, Carol Proner, Jose Geraldo de Souza, Jacques Alfonsin e Eugênio Aragão; os teólogos Dom Leonardo Steiner e Pastor Ariovaldo Ramos; os ecologistas Leonardo Boff e Moema Miranda; o cientista Osvaldo Aly Júnior; os diplomatas Celso Amorim, Paulo Roberto de Almeida e Samuel Pinheiro Guimarães; os economistas Guilherme Costa Delgado, Paulo Nogueira Batista Junior, Roberto Piscitelli e José Celso Cardoso Filho; os jornalistas Tereza Cruvinel, Luís Nassif, Helena Chagas e Venício Artur de Lima e os políticos Erika Kokay, Raul Jungmann, Alessandro Molon e Patrus Ananias são alguns dos personagens presentes na coleção que expõem a sua visão sobre assuntos que pautaram a política e a sociedade brasileira após o impeachment.

O novo projeto começa com um preito de memória e homenagem ao Padre Thierry Linard de Gueterchin SJ, falecido em 30/01/2022. Padre Thierry integrou a Comissão Justiça e Paz de Brasília (CJP-DF) e foi o inspirador do OLMA e do projeto Diálogos em Construção, tendo se tornado amado irmão, amigo, companheiro, como os seus colegas nesses projetos o consideravam, mas que são também prova dessa fraternidade, amizade e companheirismo a esse belga que veio para o Brasil com 31 anos e daqui não mais saiu – a não ser em viagens sazonais, para se encontrar com a família, para estudos e serviços de sua Ordem –, [conforme] as inúmeras mensagens, depoimentos,necrológios que, logo que se teve a notícia de sua páscoa definitiva, começaram a circular intensamente.

Com esse sentido altamente mobilizador e repleto de gratidão, se está preparando o evento inaugural, no dia 03 de abril, que traz um tema extremamente importante: “Desafios da realidade indígena na atualidade brasileira”. A programação está sendo finalizada e logo será divulgada.

Num momento em que mais se percebem as injunções graves e violentas, no limite do genocídio, que se contrapõem à luta histórica dos povos indígenas pelo reconhecimento de seus modos de ser e de existir, vem o alento de que devem afinal ser altivamente ouvidos, a partir de suas agendas tradicionais na ocupação do Abril Indígena – Acampamento Terra Livre no diálogo agora, com o recém instituído Ministério dos Povos Indígenas.

(*) Por Eduardo Xavier Lemos, presidente da Comissão Justiça e Paz de Brasília, e  Ana Paula Daltoé Inglêz Barbalho, vice-presidente da Comissão Justiça e Paz de Brasília

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