“Campos Neto representa um projeto que não foi eleito nas urnas”, afirmou a presidenta do PT Gleisi Hoffmann, nesta segunda-feira (13), em ato no Clube de Engenharia (RJ) por queda dos juros abusivos do BC
A menos de uma semana da próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central, marcada para os dias 21 e 22 de março, cresce a pressão da sociedade civil organizada para que a instituição baixe de uma vez a taxa básica de juros, hoje estacionada no desastroso índice de 13,75%. Na noite desta segunda-feira (13), um ato em apoio ao presidente Lula pela redução da Selic reuniu lideranças políticas no Clube de Engenharia do Rio de Janeiro. O ato contou com as presenças de representantes do PT, PSOL e PCdoB, entre eles, a presidenta Gleisi Hoffmann, que denunciou que os juros atuais impedem o crescimento do país.
As lideranças também defenderam o fim da autonomia do Banco Central e a saída do atual presidente, Roberto Campo Neto. “Eu acho que o Roberto Campos Neto tinha de ter decência, vergonha na cara, pegar o boné dele e ir embora, e deixar a presidência do Banco Central”, afirmou Gleisi, para quem a manifestação em apoio a Lula é “uma cruzada por crescimento e emprego”.
“O embate com o Campos Neto é político, não é econômico”, discursou Gleisi. “Ele representa um projeto que não foi eleito nas urnas, ele não podia estar onde ele está”, afirmou a petista. “Presidente do Banco Central vai ter mandato. No mínimo, o mandato tinha de ser coincidente com o mandato do presidente da República”, disse, no ato organizado pelo deputado federal Lindbergh Farias (PT-RJ).
No ato, Lindbergh alertou para a arapuca representada pelos juros altos para o novo governo e seus efeitos nefastos sobre a economia. “É uma armadilha, estão querendo amarrar o presidente Lula”, advertiu Lindbergh. “Eles querem jogar o Brasil numa recessão econômica”.
“Estamos numa campanha nacional, dialogando com o povo brasileiro sobre os efeitos negativos da taxa Selic em 13,75% para a economia e a geração de empregos”, explicou o parlamentar, após o ato, pelo Twitter.
Também compareceram os deputados Guilherme Boulos (PSOL-SP), Jandira Feghali (PCdoB-RJ), Reimont (PT-RJ), Tarcísio Motta (PSOL-RJ) e Pastor Henrique Vieira (PSOL-RJ).
“O senhor Roberto Campos, sozinho, quer definir a política de juros no Brasil”, protestou Jandira Feghalli. “Contra os 60 milhões de votos nas urnas do povo brasileiro, que disseram que elegemos Lula para ter emprego, desenvolvimento, para crescer a economia, para garantir um outro país”.
O efeito da crise americana
Diante de uma crise que se avizinha nos Estados Unidos em decorrência do colapso financeiro do Silicon Valley Bank (SVB), na semana passada, é necessário preparar o terreno no Brasil para, o quanto antes, reduzir os juros. Caso a crise se alastre por lá, analistas apontam que haverá impacto nas demais economias do planeta.
A discussão começa a tomar maior corpo na economia americana, cujo aperto monetário desde a eclosão da pandemia, em 2020, com ciclos cada vez mais altos de juros, não freou a pressão inflacionária, e hoje responde por boa parte da desaceleração da atividade no ano passado.
Lá, a partir de 2022, os juros estabelecidos pelo Banco Central americano (Fed) decolaram de um intervalo entre 0% e 0,25% ao ano para o patamar atual, de 4,5% a 4,75%, o maior índice desde a crise de 2008, período em que a quebra do Lehman Brothers arrastou o mundo para uma crise financeira sem precedentes desde a tormenta de 1929.
Por isso, cresce a percepção entre analisas de que a alta nos juros nos Estados ajudou a quebrar o SBV. O temor agora é de que haja um efeito de “contágio” em outras instituições. “Há uma interpretação do mercado que o ciclo da taxa de juros pode acabar mais cedo sim porque o Fed terá menos espaço para aumentar juros e a confiança do consumidor pode ficar abalada”, declarou William Castro Alves, estrategista chefe da Avenue, ao Estadão.
“Gordura” para cortar juros no Brasil
A possibilidade real de uma interrupção da trajetória dos juros nos Estados Unidos, com possível reversão da curva ascendente, reforça ainda mais a necessidade de uma queda no Brasil, que ainda corre um potencial risco de uma crise de crédito em face da quebra das Americanas.
Segundo o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, o mundo hoje não comporta espaço para um aumento da taxa de juros, o que significa que o Brasil dispõe de uma “gordura” para reduzir a Selic, algo que torna a condição do país única.
“Hoje, há pouco espaço para aumentar taxas de juros no mundo e eu diria que há uma gordura no Brasil que permite a nós, tomando as providências que estão sendo tomadas e vêm sendo reconhecidas pelo Banco Central nas atas que ele divulga… Penso que temos um espaço [para reduzir juros] que o mundo não tem”, declarou o ministro, em evento promovido pelo jornal O Globo.
“Qual é o limite que você tem para aumentar os juros sem desorganizar a economia como um todo, a quebradeira que pode vir de um descasamento das carteiras?”, questionou Haddad, ao analisar o caso americano. “Uma hora vai chegar a esse limite, e haverá mais dificuldade de buscar o centro da meta (de inflação) num período muito curto”.
Da Redação do PT, com Estadão e Exame