Uma nazista chamada deputada Coronel Fernanda

Parlamentar desqualifica o nazismo como crime ao propor mudança na lei antirracista e apresenta outro PL para acabar com partidos comunistas

Por João Negrão

A titular da cadeira do gabinete 242 do Anexo IV da Câmara dos Deputados atende pelo nome de deputada federal Coronel Fernanda, do Partido Liberal em Mato Grosso. A coronel da Polícia Militar daquele estado, Rúbia Fernanda Díniz Robson Santos de Siqueira, é uma bolsonarista fanatizada que anda a perseguir quase que um único propósito, ao menos o que anda fazendo nesta sua primeira quinzena que assumiu o cargo de deputada federal. Ela é uma anticomunista ferrenha, tanto que sua equivocada postura só não suplanta a ignorância que a leva a defender o nazismo.

A Coronel Fernanda é autora de um projeto de lei, o de número 446/2023, que altera o parágrafo 1° do artigo 20 da Lei n° 7.716, de 5 de janeiro de 1989, que define os crimes resultantes de preconceito de raça ou cor. A Lei Antirracista.

Ao invés de simplesmente incluir na lei seus propósitos anticomunistas – o que já seria um despropósito – a deputada faz uma alteração total no dispositivo da lei desqualificando o nazismo como crime, levando-se em conta que a mudança do parágrafo 1° que ela advoga criminaliza a “foice e o martelo”, porém, sem fazer qualquer citação aos símbolos nazistas como a cruz suástica ou gamada, dentre outros.

Confira o parágrafo atual do artigo:

Art. 20. Praticar, induzir ou incitar a discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional. (Redação dada pela Lei nº 9.459, de 15/05/97)

§ 1º – Fabricar, comercializar, distribuir ou veicular símbolos, emblemas, ornamentos, distintivos ou propaganda que utilizem a cruz suástica ou gamada, para fins de divulgação do nazismo. (Redação dada pela Lei nº 9.459, de 15/05/97)

Confira a alteração proposta pela deputada bolsonarista:

Art. 20. Praticar, induzir ou incitar a discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional.

§ 1º – A Fabricar, comercializar, distribuir ou veicular símbolos, emblemas, ornamentos, distintivos ou propaganda que utilizem a foice e ou o martelo, para fins de divulgação do comunismo ou o socialismo.

Ou seja, ela suprime totalmente a referência ao nazismo contida na lei. No discurso em plenário da Câmara Federal em que defende suas posições anticomunistas, a deputada deixa claro que considera o comunismo pior do que o nazismo.

Passou meio desapercebido que durante sua posse na Câmara dos Deputados, em 1º de fevereiro, a Coronel Fernanda fez, sem nenhum constrangimento, uma saudação nazista, postada “inocentemente” em seu Instagram.

A anticomunista coronel da Polícia Militar de Mato Grosso é autora de outro projeto de lei, o 447/2023, em que propõe alteração na Lei n° 9.096, de 19 de setembro de 1995, que dispõe sobre partidos políticos.

A proposta da Coronel Fernanda é alterar o parágrafo único do artigo 2°, pela qual vedaria a criação de partidos comunistas/socialistas.

Dentre as justificativas, diz a parlamentar: “A história revela que o comunismo/socialismo matou mais de 100 (cem) milhões de pessoas no mundo. Para documentar essa história, com o objetivo de honrar as mais de 100 (cem) milhões de vítimas dessa tirania e educar as gerações futuras sobre o passado”.

As justificativas da Coronel Fernanda em suas proposituras são eivadas de desconhecimento histórico, conteúdos desonestos e mentirosos e argumentos carregados de mentiras históricas, fake News, em suma.

Eis uma das pérolas de sua confusão mental: “A história revela que o comunismo/socialismo matou mais de 100 (cem) milhões de pessoas no mundo. Sabe-se, também, por diversas fontes oficiais, que durante décadas os Estados Unidos da América – EUA e seus aliados, entre eles o Brasil, enfrentam a ameaça do terrorismo, um adversário sem nacionalidade e que não poupa civis, mulheres e crianças, é só lembrar do recente 11 de setembro no World Trid (sic) Center nos EUA”.

Morei por 19 anos em Cuiabá até o ano de 2010, quando retornei a Brasília, minha cidade natal. Cobri, como repórter, muito da vida política de Mato Grosso e conheço o bastante sobre as movimentações das forças políticas locais. Se antes havia uma direita “civilizada”, que sabia conviver com as diferenças de todos os espectros políticos-ideológicos, agora o que se vê é uma ultradireita raivosa e antidemocrática ganhando amplos espaços.

A Coronel Fernanda é produto desse novo contexto, realidade não apenas em Mato Grosso, que se amplificou com a chegada de Bolsonaro ao poder e a permanência do bolsonarismo na sociedade brasileira, inclusive com força no Congresso Nacional, mesmo após sua derrota em 30 de outubro.

A deputada militar também é produto de uma forte articulação da bancada bolsonarista, distribuída, sobretudo, no PL, partido dela, mas também nos demais partidos que apoiaram o ex-presidente. No Congresso Nacional essa turma se movimenta muito bem articulada, especialmente acerca das pautas antidemocráticas, ultraconservadoras e moralistas.

É curioso notar que a deputada Coronel Fernanda, embora se declare branca, é considerada uma “bugra”, com fortes traços latinos, que em Mato Grosso, especialmente nas regiões fronteiriças, é a miscigenação de negros, índios e brancos.

Ela é casada com um homem negro, também oficial da Polícia Militar de Mato Grosso, e tem filhos e netos mestiços. É lícito este registro porque a deputada Coronel Fernanda pode ignorar, mas o fato é que se ela e sua família estivessem na Alemanha nazista dos anos 30/40 já estariam todos eles enfileirados em alguma câmara de gás de algum campo de concentração.

13 Replies to “Uma nazista chamada deputada Coronel Fernanda”

  1. Uma política desqualificada, limitada, intelectual e moralmente. Se percebe pela fácil dicção e “lógica” – ou falta dela – em suas falas. Quando confrontada, facilmente, entra em tilt… Uma verdadeira parasita que se projetou politicamente na onda bolsonarista pseudomoralista. Se não houver uma nova fonte de “alimento” para se manter, em 4 anos será esquecida, até mesmo entre os seus aliados…

    1. A sociedade tem que combater essas idéias, não podemos permitir o “avanço desse retrocesso” (a contradição foi proposital).
      Conquistamos a democracia à custa de muitas vidas, muitos exílios, muitas perdas. Ao podemos permitir que os batalhadores tenham morrido em vão.

  2. Coronel totalmente despreparada para assumir o cargo de Deputada.
    MT está ferrado vom seus representantes, quando não é Abílio e outra nazista no palco kkkk

  3. E o resultado do entendimento de um povo ignorante que não conhece a história do mundo ou do Brasil. Os territórios tomados do Mexico, a invasão de Granada, As mortes no Timor Leste, os assassinatos na América Latina, a ocupação do Panamá, ou os ataques á Nicarágua por conta do Canal do Panamá e o futuro Canal da Nicarágua. O ditador era Noriega, agora é Ortega, e o serão, todos que se opuseram aos EUA. E eu não falei de Hiroshima e Nagazaki. … convenhamos…

  4. O “inominável” e seu legado deixaram muitas “pérolas excludentes”, como se pode perceber a exemplo dessa Coronel, que assim como a criatura citada acima, também prefiro chamar de “a inominável”, bem como outros inomináveis daquela Casa de Leis a qual esses seres fazem parte! Deveriam utilizar os valores que nós contribuintes pagamos pelos cargos que ocupam, e juntamente seus planos de saúde caríssimos, para iniciar um tratamento psicológico juntamente com um historiador ao lado, pra quem sabe, de uma vez por todas, começarem a refletir como Cidadãos que prezam realmente pelo bem estar da população.

  5. A sociedade tem que combater essas idéias, não podemos permitir o “avanço desse retrocesso” (a contradição foi proposital).
    Conquistamos a democracia à custa de muitas vidas, muitos exílios, muitas perdas. Ao podemos permitir que os batalhadores tenham morrido em vão.

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