Fotógrafo brasileiro retrata a riqueza da Floresta Amazônica e de povos indígenas
Por Robert Soutar, do Diálogo Chino
Uma foto monocromática em alto contraste da floresta saúda os visitantes da ‘Amazônia’, nova exposição do fotógrafo Sebastião Salgado recém inaugurada no Museu de Ciências de Londres.
Em algumas imagens, os tributários do grande rio Amazonas parecem gravar curvas suaves no meio da floresta em movimentos que se assemelham a um pêndulo. Em outras, os rios parecem cortar a floresta como furos, com corpos d’água formando trechos lineares e curvas mais acentuadas. Cada ângulo parece formar uma espécie de quebra-cabeça e uma sensação de movimentos imprevisíveis.
‘Amazônia’ faz muito mais do que documentar os rios que pulsam pelo Brasil e alimentam seu maior bioma. Há também seus “rios voadores” — bilhões de toneladas de vapor d’água liberadas pela floresta e transportadas por correntes de ar. Temos também as chapadas. E as chuvas: torrenciais, suave como uma cortina branca, ou mesmo chuvas impressionantes que formam nuvens que lembram cogumelos. Apesar da pujança, as precipitações na Amazônia estão cada vez mais irregulares devido ao desmatamento e às mudanças climáticas.
Além de hipnotizar os espectadores por sua biodiversidade e riqueza, ‘Amazônia’ retrata algumas das centenas de povos indígenas que habitam e protegem o que Salgado chama de “paraíso na Terra”. Entre eles, vemos os pescadores Kuikuro, que vivem na reserva do Xingu, e os Zo’é, que sobreviveram à chegada de missões religiosas nos anos 1980, bem como à devastação de seu território pela indústria da borracha.
Salgado é tão conhecido por seu ativismo para proteger as florestas e os povos indígenas do Brasil quanto por suas fotografias monocromáticas de alto contraste. A exposição traz a imponência da Amazônia para o grande público justamente em um momento em que sofre com constantes ameaças de extração de madeira, mineração e agricultura.
Embora o patrocínio para a exposição de Salgado venha de outras fontes, o Museu da Ciências de Londres foi alvo de críticas de ativistas ambientais, que acusam o museu de permitir que a companhia petrolífera Shell faça “maquiagem verde”, ou greenwash em inglês, por patrocinar exposições que discutam métodos de captura e remoção de carbono da atmosfera, quando seu próprio negócio é responsável por grandes emissões.
Enquanto isso, o que há de mais eficiente para captura e remoção de carbono corre o risco de destruição e dano permanente. Essa tecnologia está exposta em ‘Amazônia’ — e é a própria floresta.
A exposição de Sebastião Salgado está em exposição no Museu de Ciências de Londres até março de 2022, com futuras exibições planejadas no SESC São Paulo e no Museu do Amanhã no Rio de Janeiro.