Racha na Frente de Mulheres Negras do DF e Entorno expõe luta de classes e personalismos?

Por João Negrão

No meio da pandemia, a maior, mais organizada, combativa e querida vertente do movimento negro do Distrito Federal e Entorno sofreu um racha. A Frente de Mulheres Negras do Distrito Federal e Entorno partiu em três partes após desentendimentos entre as suas principais lideranças.

Quem de nós, militantes do movimento negro e ativistas dos movimentos sociais, nunca se deliciou com a Feira Afro e Feijoada da Frente de Mulheres Negras do DF e Entorno? O lamento é que a divisão escancarou posturas até então irremediáveis e a nossa querida e amada Frente manteve-se organizada, mas teve duas dissidências: uma parte que ficou neutra e outra que criou outro coletivo de mulheres negras.

Ninguém sabe (ou não quer dizer) ao certo o que realmente motivou o racha. Eu tentei aprofundar sobre isso com algumas das lideranças, contudo nenhuma delas se dispôs, até o momento, a escancarar o ocorrido. Como o episódio ganhou os bastidores do movimento negro, especialmente no âmbito da articulação da Coalizão Negra por Direitos, que organizou na última quinta-feira (18.02.21) o Ato Por Comida e Vacina, a polêmica está exposta, ainda que nos compartimentos dos movimentos sociais.

Pelo que aferi em diálogos com mulheres que compõem o coletivo, a briga ganhou contornos severos. Três situações teriam convergido para que o racha ocorresse. Um delas envolve questões administrativas, como a carência de prestações de contas de eventos organizados. A outra seria a conduta personalista de algumas dirigentes que não agradaram outra parte da direção e base.

Por fim, conforme a avaliação de uma “membra” que preferiu não se expor, seria a conduta elitista de um conjunto de dirigentes, com posturas reprováveis em relação aos setores mais humildes do movimento e seu público alvo na periferia de Brasília. A conduta de algumas dessas lideranças, conforme relatos que chequei, passariam à fronteira do desprezo para com as pessoas necessitadas que receberam cestas básicas.

Pelo WhatsApp eu acionei as jornalistas Jacira Silva e Bel Clavelin, a ativista Graça Santos e a militante e artista Marina Andrade. A Bel estava em uma reunião e ficou de retornar. Marina não visualizou. A Graça foi peremptória: “A Frente continua. Não rachou. Algumas pessoas saíram, soltaram uma carta. Mas continuamos o nosso trabalho. É estranho que soubemos depois que algumas pessoas nos informaram da tal carta. Por isto acho que você deve falar com elas”, disse Graça.

Jacira Silva enviou um áudio em que confirma que existe uma nova articulação de mulheres negras. É o Coletivo de Mulher Negras Baobá, que aglutina militantes que antes compunham a Frente de Mulheres Negras do Distrito Federal e Entorno.

“Nos colocamos à disposição para falar sobre o nosso trabalho das mulheres que constituíram esse Coletivo de Mulheres Negras Baobá. Nós já estamos num trabalho em ação desde dezembro, quando fomos constituídos, com as lives, todas as terças-feiras participando de um espaço político de construção do 8 de março e na luta contra o racismo e especialmente de nós mulheres negras atingidas pelo covid e toda essa ausência de políticas publicas e ações afirmativas para a nossa população”, disse ela, em meu resumo.

As outras mulheres ligadas a esta luta que quiserem se manifestar é só me acionar que o espaço às posições e ao debate estão abertos.

Abaixo eu publico a íntegra do áudio da Jacira:

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