Esperava mais de O Agente Secreto, mas é um filme magnífico

Por João Negrão, da Editoria

 

Ainda estou deglutindo o filme O Agente Secreto, de Kleber Mendonça Filho, que assisti no último sábado (8.11). Duas semanas antes, minha primogênita Joana, cinéfila, que o viu em projeção especial em Campo Grande (MS), me contatou e diz: “Pai, você tem que assistir. É um filme magnífico. Você vai amar!”

Fui para a sala do Park Shopping com o coração acelerado. Afinal, incluí O Agente Secreto na minha trilogia nacional com o tema ditadura sanguinária de 64: Ainda Estou Aqui (Walter Salles), O Agente.. e Honestino, de Aurélio Michiles, que só chegará aos cinemas no primeiro semestre do ano que vem, mas vi e revi o trailer e entrevistei o diretor.

Contudo, vou confessar: eu esperava mais de O Agente Secreto. Alguns aspectos me decepcionaram.

Um deles foi a minha expectativa do “link” do empresário corrupto e estúpido com a própria ditadura. É vago. O outro, uma impossível resistência ali, especialmente de personagens que se propuseram à proteção dos “refugiados” – aliás, com suas histórias mal exploradas. O casal angolano, por exemplo. O filme poderia ter feito uma ligação entre a ditatura brasileira e a luta de Angola pela independência que se seguiu a uma cruel guerra civil.

Mais uma decepção foi aquele final mal construído, com Fernando dizendo que não tinha lembrança nenhuma do pai. O menino aparentava ter seis ou sete anos, pois já escrevia e elaborava bem seus pensamentos com os bilhetes ao pai e suas ilustrações da família e do tubarão, sua fixação. Como um menino desse iria declarar que não se lembra nada do pai!?.

Por fim aquele encontro com a estagiária/pesquisadora poderia ser menos frio e mais elucidativo do final trágico de Armando/Marcelo. Como no início, só havia lá um corpo estendido no chão.

Todavia, por aquela sequência inicial, aquela perna e o outro corpo estendido no chão, em cada enxerto intercalado nessas cenas o filme se torna magnífico. Envolve nesse todo as interpretações. Wagner Moura, magnífico, permite aos demais atores e seus personagens serem protagonistas em cada quadro.

Como magnífico foi a reconstituição de São Paulo, Brasília e Recife daqueles idos da década de 70. Aplausos de pé para a direção de arte que fez com que, especialmente a capital pernambucana setentista, se tornasse um verdadeiro personagem do filme.

E a fotografia é outro personagem. Realça o quente do começo ao fim, com tudo à flor da pele, sem sombras, sem truques e com toda a crueza do momento histórico, ainda que o burlesco se faça presente.

* João Negrão é editor do Expresso 61, do HUB Mutirum de Comunicação e da TV 61.

 

 

 

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *