É na mesa de manhã, debaixo de um teto, dentro de casa, com luz e saneamento básico, segurança e educação, saúde e assistência social, cultura também, trabalho e renda, descanso, diversão, esporte e lazer, liberdade, equidade e espírito comunitário, que os direitos humanos despertam junto com aquele que acorda para mais um dia de vida; para além da sobrevida daqueles que de tudo carecem, desde dente na boca, sorriso no rosto, comida na barriga, banho quente, agasalho pro frio e um lugar seguro para que possa à noite adormecer e com sua família conviver.
Antes do hino, do expediente e do pregão, um país revela quem é pelo que coloca — ou não — no prato de sua gente. O resto é consequência. Democracia que se respeita começa pela dignidade do corpo: leite que não falta, pão que não encarece por especulação, feijão que não vira luxo, água que não envenena, gás que não devora salário. O artigo 1º da Constituição pode proclamar fundamentos nobres; mas quem garante a efetividade é a panela.
A geopolítica também passa pela cozinha. Sanções, tarifas, câmbio, frete, crédito agrícola, demarcação de terras e combate ao crime ambiental parecem temas distantes — até chegarem ao supermercado. A floresta que arde encarece o alimento, o rio contaminado encurta o peixe, o desmonte da fiscalização vira fogo no preço. O discurso sobre soberania só é verdadeiro quando protege quem planta, pesca, transporta e cozinha; quando transforma retórica em logística, bravata em merenda, promessa em orçamento.
Direitos humanos no café da manhã têm nome e sobrenome: PNAE que funciona; creches abertas e nutridas; assistência social que encontra as famílias antes da fome; postos de saúde com atenção primária real; água tratada e saneamento básico; transporte que não drena metade do dia; internet pública onde estudar não dependa do pacote de dados. É aí que igualdade deixa de ser palavra difícil e vira caloria, presença, oportunidade. É aí que se corta a raiz do populismo que vende ilusões a estômagos vazios.
Soberania não é grito — é cadeia de abastecimento. Começa no crédito barato para o pequeno produtor, passa pela compra pública que dá escala à agricultura familiar, consolida armazéns e estoques reguladores, derruba o custo do frete, combate cartel e atravessadores, vigia a formação de preço e pune abuso sem medo dos lobbies. Não há “mercado livre” quando meia dúzia decide o que o país come; há oligopólio. E oligopólio é fome com CNPJ.
Justiça climática também se mastiga. Demarcar terras indígenas, proteger florestas e rios, coibir garimpo e grilagem não é pauta de nicho — é receita de estabilidade: clima menos doido, safras menos imprevisíveis, alimentos menos caros. Se o governo promete neutralidade de carbono e desmatamento zero, que equipe Ibama e Funai, modernize satélites, desbarate redes criminosas, financie transição produtiva e impulsione bioeconomia de escala. Floresta em pé é geladeira cheia — e não o contrário.
Direitos humanos no café da manhã também são respeito à fila curta e serviço público que funciona. Porque quem acorda às 4h para pegar três conduções não tem tempo para peregrinar atrás de laudo, cesta, vacina, creche. A dignidade do tempo é parte do prato: Estado que faz o cidadão perder o dia para conseguir o óbvio pratica uma violência silenciosa. Digitalizar com inclusão, desburocratizar sem excluir, levar serviço até a pessoa — eis uma política de direitos humanos tão relevante quanto qualquer lei.
Transparência é tempero que não pode faltar. Promessa sem régua é espuma. Todo compromisso social e climático precisa vir com metas verificáveis, responsável com CPF, prazo e painel público. Orçamento com lastro, avaliação independente de impacto, prestação de contas em linguagem acessível. Sem isso, o país vira palco de anúncios e a sociedade, plateia de frustrações.
Há quem peça “moderação” diante de quem sabota a regra do jogo. Confundem moderação com anistia, diálogo com capitulação. Direitos humanos não são negociáveis: não dependem de quem está no poder, nem do humor do mercado, nem do calendário eleitoral. Dependem de uma decisão simples e difícil: ninguém começa o dia condenado pela fome. A partir daí, todo o resto é política — e política se mede por entrega.
Quando a história olhar para nós, não cobrará apenas o que dissemos nas tribunas, mas o que servimos nas manhãs. Se democracia é o regime que protege a vida, que a proteja onde ela é mais frágil e mais concreta: na primeira refeição, na primeira infância, no primeiro emprego, na primeira consulta. O café da manhã é o nosso teste diário de civilização. Aprovamos com política pública — ou reprovamos com desculpas.
* Paulo Lemos é advogado em Cuiabá e Mato Grosso e articulista de opinião.
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É uma verdade que o café da manhã não é só café da manhã, é a batalha pela soberania alimentar! Essa retórica do soberania não é grito, é cadeia de abastecimento me faz rir porque, na prática, parece que a gente precisa de um superherói com superpoderes de negociação pra garantir um feijão no prato. Mas, na verdade, essa ideia de direitos humanos no café da manhã é tão importante que já me dá um pique de solidão. Quem nunca passou por uma fila interminável pra pegar a merenda? É uma violência silenciosa, claro! Mas, no fim das contas, se o governo não arrumar um jeito de incluir a gente nesse mercado livre que só funciona pra uns poucos, a gente talvez precise voltar pro velho método: aprender a cozinhar com manteiga de amendoim e sonhar com uma geladeira cheia! 😄metal injection molding