A POLÍTICA, as eleições no Brasil em 2024 e a intenção de oração do Papa Francisco para o mês de agosto: “Estratégias coletivas para Encantar a Política”

Por: Ana Paula Daltoé Inglêz Barbalho e José Geraldo de Sousa Junior – Jornal Brasil Popular/DF

As eleições municipais no Brasil ocorrerão em 6 de outubro de 2024, com segundo turno em 27 de outubro. Os eleitores escolherão os prefeitos, vice-prefeitos e vereadores dos 5.569 municípios do país.

Como escolher bem meu representante?

Como fazer valer o voto?

A escolha de um candidato – que recebe uma carta de representação em branco quando eleito – não é um processo simples. Para além da observância das regras da Justiça eleitoral, dos códigos e dos diplomas legais exigidos, quais serão os critérios decisivos para o seu voto em 2024?

Na mensagem de vídeo da intenção de oração para o mês de agosto de 2024, o Papa Francisco faz uma reflexão sobre política, sobre o papel do cristão dentro da política e pede orações pela POLÍTICA, com maiúsculas ressaltadas pelo pontífice, e pelos líderes políticos para que estejam a serviço de seu povo.

A reflexão proposta pelo Papa Francisco não poderia ser mais atual no contexto brasileiro:

Segundo o Tribunal Superior Eleitoral, 156 milhões de eleitores brasileiros devem ir às urnas em outubro, elegendo 5.569 prefeitos e cerca de 58.000 vereadores. Bem maiores que as cifras da eleição, as responsabilidades das decisões tomadas pelos eleitos impactam diretamente a vida e a dignidade da população de quase a totalidade dos brasileiros – apenas Brasília, que não tem prefeito, mas governador, e Fernando de Noronha, que tem sua gestão organizada pelo estado de Pernambuco, não votam em 2024.

O último relatório do Latinobarómetro para a América Latina, publicado em 2023, tem um título impactante: “A recessão democrática da América Latina”. O documento completo pode ser acessado em https://www.latinobarometro.org/lat.jsp?Idioma=724.

O título do relatório decorre da conclusão do estudo que entrevistou, entre fevereiro e abril de 2023, 19.205 pessoas em 17 países da região, com margem de erro de 3%, e que indica que o apoio à democracia na América Latina caiu na última década, com crescimento simultâneo do apoio ao autoritarismo, especialmente entre os mais jovens. A democracia na América Latina, longe de se consolidar, entrou em uma recessão.

Apenas 48% dos latino-americanos apoia hoje a democracia como regime político, marcando uma diminuição de 15 pontos percentuais quando comparado aos 63% de 2010.

Quando avaliado o apoio ao autoritarismo, a pesquisa indica que 17% dos latino-americanos apoia a expressão “um governo autoritário pode ser melhor”. Em 2010, apenas 15% dos entrevistados apoiavam esta expressão. Os jovens entre 16 e 25 anos são os que mais mostram adesão a um regime autoritário.  Entre as pessoas com mais de 61 anos, apenas 13% concordam com a sentença, de acordo com o Latinobarómetro.

A pesquisa mostra que 43% dos jovens entre 16 e 25 anos apoia a democracia, enquanto entre os maiores de 61 o apoio chega a 55%. Há muito espaço para esperança e uma necessidade imediata de ampliarmos os diálogos para melhorarmos a política.

A mensagem do Papa para o mês de agosto reverbera no contexto brasileiro e pode ser considerada fundamental para a boa escolha no momento do voto.

Divulgada nesta terça-feira, 30 de julho, o Papa Franciscoinicia sua mensagem em vídeo com a seguinte sentença: “Atualmente a política não tem boa fama: corrupção, escândalos, está distante do dia a dia das pessoas. Mas, podemos avançar em direção à fraternidade universal sem uma boa política? Não”, responde o Papa.

As primeiras palavras do Pontíficeintroduzem uma reflexão que contraria o senso comum da imagem da política nos dias de hoje: a política como a única solução possível para os problemas da sociedade.

O Papa Francisco se refere a política na forma conclamada pelo PapaPaulo VI:como uma das formas mais altas da caridade, porque busca o bem comum.

Para diferenciá-las, o Papa Francisco se expressa buscando a forma da “POLÍTICA com maiúsculas”, se contrapondo à politicagem. É a POLÍTICA que escuta a realidade, que está a serviço dos pobres, que se preocupa com os desempregados e sabe muito bem como pode ser triste um domingo quando a segunda-feira é um dia a mais sem poder ir trabalhar. “Se a vemos assim, a política é muito mais nobre do que aparenta.”, diz o Papa. Confira a íntegra da mensagem em https://www.vaticannews.va/pt/papa/news/2024-07/papa-francisco-intencao-oracao-julho-politicos-servico-povo.html

No Brasil, desde 2022, iniciativas diversas buscam sintetizar e propagar a mensagem do Papa Francisco para a estruturação da POLÍTICA. Dentre as muitas existentes, gostaríamos de referenciar o projeto “Encantar a Política”, pois foi inspirado nas encíclicas do Papa Francisco, Laudato Si’, Fratelli Tutti e Alegria do Evangelho, com o propósito de promover uma compreensão mais profunda e ativa da política entre os membros da igreja, em três eixos:

  • Despertar consciência crítica do eleitorado à luz do Ensino Social da Igreja (ESI);
  • Proporcionar capacitação para candidaturas de perfil popular e coletivo;
  • Atuar no período eleitoral: combatendo a corrupção eleitoral; apoiando e se engajando em candidaturas coerentes com o ESI e realizando a mobilização social pela democracia.

O projeto se instituiu em 2022 como uma colaboração entre diversas organizações: inicialmente o Conselho Nacional do Laicato do Brasil (CNLB), a Comissão Brasileira Justiça e Paz (CBJP), o Centro Nacional Fé e Política Dom Helder Camara (CEFEP), o Movimento Nacional Fé e Política (MNFP), a Comissão Episcopal para Ação Sociotransformadora da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CEPAST/CNBB) e o Núcleo Estudos Sociopolíticos (NESP/PUC Minas). Em 2024, passa a contar com várias outras organizações como CRB Nacional, Rede Brasileira Justiça e Paz, PAMEN – Pastoral do Menor, PJ – Pastoral da Juventude, PJMP – Pastoral da Juventude do Meio Popular, Comissão Dominicana de Justiça e Paz, Pastorais Sociais e Organismos da Comissão Episcopal para Ação Sociotransformadora da CNBB, Iser Assessoria, OLMA – Observatório Socioambiental Luciano Mendes de Almeida (Jesuítas), Articulação das CEBs do Brasil, Sefras, Sinfrajupe, Articulação Brasileira da Economia de Clara e Francisco, Comissão Episcopal para o Laicato da CNBB, Jubileu Sul, Padres da Caminhada.

O “Encantar a Política” visa aplicar os ensinamentos do Papa à realidade contemporânea e o objetivo central do projeto é capacitação para participação da política como expressão de caridade e amor social, fornecendo uma base sólida para aqueles que desejam se aprofundar no assunto. É possível consultar materiais, aprofundar conhecimentos e saber notícias do projeto no site https://encantarapolitica.org.br/. Um destaque especial à a 8ª edição da Revista Casa Comum, elaborada em parceria com o projeto “Encantar a Política”: https://revistacasacomum.com.br/wp-content/uploads/2024/03/RCC_8edicao.pdf e ao Caderno Encantar a Política, de 2022, com conteúdos muito bem estruturados e excelentes para a discussão comunitária sobre a participação social na política: https://encantarapolitica.org.br/biblioteca/

Nesse contexto, unindo a necessidade de discussão na arena pública, às formações do Mutirão pela Democracia 2024 no projeto Encantar a Política, com as intenções manifestadas pelo Papa Francisco para as orações de agosto de 2024, o evento Diálogos de Justiça e Paz terá como tema “Estratégias coletivas para Encantar a Política”.

O encontro acontecerá no dia 05 de agosto, às 19h, no auditório do Centro Cultural de Brasília (CCB), na Av. L 2 Norte, Quadra 601, com entrada franca, e terá transmissão simultânea pelos canais @cjpbrasilia e @OLMAObservatorio, no YouTube.

O Diálogos de Justiça e Pazterá como painelistas a Deputada Federal Erika Kokay (PT-DF) e Daniel Seidel, mestre em Ciência Política/UnB, membro da CBJP e do Movimento Nacional Fé e Política, com mediação do Professor Doutor José Geraldo de Sousa Junior, advogado, professor da Faculdade de Direito/UnB e ex-reitor da Universidade de Brasília.

Pesquise o histórico pessoal da candidata e do candidato, pesquise o histórico político e saiba se ao longo da participação na vida pública o comportamento do candidato merece seu voto, busque afinidade de pensamento especialmente nas prioridades da vida quotidiana do cidadão – como o político resolveria os principais problemas da cidade? – conheça o partido do candidato, conheça as propostas do candidato e saiba se elas se relacionam ao cargo que ele pretende ocupar, entendendo as atribuições de cada cargo, observe os gastos de campanha e conheça de perto seu candidato.

O Regional Sul 3 da CNBB lançou mensagem chamando ao voto responsável. Outros organismos pastorais estão marcando a importância do processo eleitoral. A mensagem do Regional 3, está atenta aos desafios que se seguiram à tragédia não só natural, também política que afetou o Rio Grande do Sul. Elaelenca, por isso, alguns critérios que iluminam a escolha de prefeitos e vereadores, para um voto participativo e consciente e exorta a todos para “criar um clima coletivo de liberdade para construirmos a paz entre nós”.

Com efeito, todos nós, especialmente os cristãos leigos, somos chamados a participar da vida política. Construir uma sociedade mais justa e solidária depende diretamente de nosso engajamento e de nosso comportamento na vida quotidiana, pela participação e controle social, nas campanhas eleitorais, pelo comportamento cristão da vivência do debate e da POLÍTICA com fraternidade, e na eleição, no momento de escolha consciente dos representantes políticos. Voto não tem preço, mas tem consequência.

(*) Por Ana Paula Daltoé Inglêz Barbalho[1] e José Geraldo de Sousa Junior[2]


[1]Ouvidora do Serviço Florestal Brasileiro, advogada, bióloga e presidente da Comissão Justiça e Paz de Brasília

[2] Professor Emérito e ex-Reitor da UnB (2008-2012); membro da Comissão Justiça e Paz de Brasília

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