por Gilberto Cardoso Sousa (*) – Jornal Brasil Popular/DF
Na próxima quarta-feira (22/2) inicia-se a Campanha da Fraternidade, uma das mais belas experiências evangelizadoras da Igreja no Brasil, reconhecida e valorizada mundialmente dentro do catolicismo e fora dele, e confirmada por todos os papas desde sua criação em 1962, que sem exceção todos os anos enviam exortações aos católicos viverem o jejum, a oração e a penitência num ambiente espiritual proporcionado pelo tema e lema da campanha.
É por demais conhecida a história dessa ação evangelizadora que teve seu nascimento na Arquidiocese de Natal, que naquele tempo contava com o pastoreio de Dom Eugênio Sales, posteriormente transferido à Arquidiocese do Rio de Janeiro e elevado à dignidade cardinalística.
Anualmente durante a Quaresma, a CNBB anima e articula a CF, que se realiza majoritariamente nas paróquias, comunidades, dioceses, arcebispados, colégios e universidades de inspiração católicas.
Pelo menos desde 2000, de tempos em tempos, a CF é assumida por igrejas cristãs congregadas no Conselho Nacional de Igrejas Cristãs (CONIC), num verdadeiro testemunho de comunhão e irmandade fraterna em torno dos temas elencados. Aliás, esse gesto ecumênico encontra apoio e encorajamento na igreja universal, basta lembrar a existência de Dicastério pela Unidade dos Cristãos na estrutura do Vaticano.
Se olharmos à história, não raro se verá como a CF consegue agendar o debate público nas esferas de poder e na arena da sociedade brasileira, muitas vezes com fortes repercussões nas mídias corporativas.
Quem se der ao trabalho prazeroso de passear pelos textos bases de cada Quaresma ficará impressionado pela qualidade de elaboração dos conteúdos, sempre articulados com vastas citações bíblicas e do magistério da igreja.
O texto segue a metodologia consagrada desde a Ação Católica (ver, julgar e agir) e apropriada pela Igreja na América Latina, particularmente nas Conferências do Episcopado do Continente (Medellín 68, Puebla 79, Santo Domingos 92 e Aparecida 2007).
O texto oferece inigualável fundamentação bíblica e teológica, oferecidas por exegetas e teólogos afinados totalmente com o magistério eclesial.
Cumpre dizer que os temas e lemas são aprovados pelos bispos 3 anos antes de virem a público.
Lamentavelmente se percebe em alguns grupos autointitulados católicos, vinculados ideologicamente à extrema direita, que com arrogância, tentam promover a cizânia e a diabólica deslegitimação da CF.
Irônica e paradoxalmente, em nome de específico “catolicismo” o negam, pois rompem a comunhão eclesial e vivem o seu ” jeito de ser igreja” apartado totalmente do seu conjunto, mentalidade essa tipicamente de seita.
Esse jeito de viver a “fé,” seguramente, é pura apostasia e heresia que tanto denunciam, pasmem, até no Papa Francisco.
No ritmo que vão, os tais “católicos” em pouco tempo serão cismáticos. Veem ideologia em tudo e todos, mas nada é mais ideológico do que os seus discursos e práticas.
São afinados com a extrema direita nacional e internacional, apologistas do fascismo de mercado e seguidores fanáticos do ex-presidente messias. Não raro encontramos eles com a Bíblia na mão e o revólver na cintura.
Alguns desses são figuras carimbadas e respondem ao Inquérito das Fake News no STF e de CPI no Congresso Nacional, acusados de propagação de discursos de ódio e mentiras.
Depois da ressaca eleitoral, voltaram com força à campanha de difamação contra a Campanha da Fraternidade de 2023.
Esses novos cruzados dizem que a igreja nada deve dizer sobre a fome e às necessidades dos pobres, perspectiva que subverte e mutila o Evangelho e o Ensino Social da Igreja. Tais leituras e afirmações pertencem a certo “catolicismo” agônico e vazio de espiritualidade.
Para esses, nada importa se no Brasil mais de 33 milhões de pessoas estão em situação de fome e o escândalo de o país voltou a frequentar vergonhosamente no mapa da fome, em que pese nos orgulhamos dos sucessivos recordes de produção de grãos e proteína animal.
A emergência sobre o assunto talvez tenha levado pela terceira vez, a igreja no Brasil assumisse a realização de uma Campanha da Fraternidade que trouxesse luz ao tema, buscando fomentar ações para minimizar os impactos desta realidade na vida do povo brasileiro.
Quando se depararem com essa turma de “católicos” nas redes sociais, os denunciem e não compartilhem seus vídeos porque se assim o fizer, os seguidores do “Jesus banqueiro” ganham mais dinheiro, visto que essas tristes figuras conhecem muito bem as dinâmicas do algoritmo.
Se puderem, leiam e rezem o texto base da Campanha da Fraternidade 2023, que se encontra nas livrarias verdadeiramente católicas a preço justo.
Ah, ia me esquecendo… quando chegar o Domingo de Ramos ofereçam contribuições no ofertório, pois esses recursos fortalecem à ação social da igreja.
Paz e Bem!
(*) Por Gilberto Cardoso Sousa leigo católico, membro do Observatório Político da CBJP – Comissão Brasileira de Justiça e Paz.