Documentário resgata a histório do mercado mais tradicional e icônico da capital mato-grossense
Da Assessoria
Toda cidade que se preza tem um mercado. É assim em quase todas as partes do mundo. No Brasil os mercados se tornaram ícones das cidades e, por isso mesmo, emblemas da cultura local, pontos turísticos a serem visitados. O Mercado do Porto, em Cuiabá, é bem assim: ali está a cara da cultura cuiabana, com a comercialização do principal produto da nossa culinária o peixe – e uma enorme variedade de produtos de origem animal e vegetal.
Trata-se ainda de um centro de troca de produtos e serviços, mas principalmente um rico ambiente de vivência e trocas culturais. O manuseio do peixe feito pelos peixerinhos, verdadeiros artesãos que limpam o peixe, cortam e agregam valor ao pescado é um de seus atrativos.
O Mercado do Porto, no entanto, é mais que um lugar icônico. Nele está boa parte da história da capital mato-grossense e o atávico convívio de feirantes com a tradição passada de pais, avós e outros paretens longíquos. Trata-se da principal feira livre pública do estado de Mato Grosso que recebe mais de 120 mil pessoas por mês, vindas de todos os lugares de Cuiabá, Mato Grosso, Brasil e exterior.
É uma grande feira pública que tem mais de meio século de existência, mas não tinha nenhum registro publicado, em mídia alguma, contando de forma didática, metodológica, científica e criativa o processo de criação, construção, desenvolvimento e situação atual deste centro da cultura mato-grossense.
Um lugar nos registros históricos
Agora toda esta rica história foi regastada em um documentário aprovado pela Lei Aldir Blanc, por meio da Secretaria de Estado de Cultural, Esporte e Lazer (Secel). Com roteiro e direção do produtor cultural Mário Olímpio, a obra “Mercado do Porto, um passeio pela cultura de Mato Grosso” [assista no final desta matéria] traz todos os ingredientes que faltavam para assegurar seu lugar nos registros históricos. “É isto que o Mercado do Porto é: um patrimônio cultural do nosso estado”, afirmou o roteirista e diretor [confira a íntegra da sua entrevista mais abaixo].
Além de Mário Olímpio, a produção do “Mercado do Porto, um passeio pela cultura de Mato Grosso” envolveu cerca de dez profissionais, que trabalharam desde a pesquisa histórica, a pré-produção, produção e pós-produção.
‘Muito mais que mercadorias’
“O Mercado do Porto de Cuiabá é um pedaço da história de Mato Grosso, um lugar de encontros, contos, memória e afetividade. O convite para participar da construção do documentário sobre sua história me deixou animado, tanto por ser esse lugar de convergências quanto para conhecer melhor quem de fato constrói o mercado”, afirmou Sérvulo Del Castilo Raiol Neuberger, produtor de Set e Gaffer.
“A oportunidade de participar por alguns dias do cotidiano dessas pessoas me trouxe outra visão, mais ampla e afetiva sobre elas, o trabalho dos fornecedores, dos peixerinhos, comerciantes diversos, tudo em sincronia para acolher e dar continuidade na cultura regional. A recomendação é que vá sem pressa, visite esse espaço para vivenciá-lo, escutar os causos e aprender, de fato o Mrcado do Prto de Cuiabá tem muito mais que mercadorias”, pontuou Sérvulo.
‘Produção do imaginário cuiabano’
“Quando surgiu a oportunidade de através do cinema contar a história de um dos focos de cultura mais importantes do Estado de Mato Grosso o peso da respondabilidade veio junto. Porque para além de pensar a produção em termos tecnicos, era preciso se somar ao time em termos estéticos e narrativos. Como registrar em imagem e som, a história dessas pessoas que carregam em sí traços do que somos enquanto sociedade? São anos dedicados não somente à gastromia e ao artesanato, mas também à produção do imaginário cuiabano”, destacou Giulia Medeiros, que assina a produção do documentário.
E complementou: “É um privilégio poder atuar em um projeto tão potente e descobrir de perto cuão impresicindível o Mercado do Porto é para nossa cultura. Estou segura que é por meio de políticas públicas e fundos de fomento à cultura que vamos poder seguir valorizando e registrando a memória viva de um lugar de encontros, de sabedoria popular e sobretudo de diversidade e amor à nossa história”.
‘Nostalgia e carinho’
“Primeiramente, participar de um documentário que conta a história do Mercado do Porto é muito gratificante. Desde a minha infância frequento o mercado com o meu pai. Ao mesmo tempo que é trabalho, também é nostalgia e carinho. O peso de ter a responsabilidade de produzir um documentário de tamanha grandeza, é uma responsabilidade pessoal e coletiva, uma meta e um marco”, afirmou Rodolfo Luiz, fotógrafo, que assina a direção de Fotografia e Montagem da obra.
“Ver o resultado de um trabalho que foi corrido e com a equipe reduzida é muito gratificante. Fotografar pessoas que estavam dispostas e abertas para o diálogo, mostrando como é o seu cotidiano e para mim como fotógrafo, foi gratificante mostrar diversas expressões e realidades para o povo cuiabano”, agregou.
‘Várias histórias de uma vida inteira’
O músico Caio Mattoso assina a trilha do documentário e disse ter sido “um orgulho danado fazer música pro documentário sobre” o Mercado do Porto. “Isso me faz acreditar que estou no caminho certo trilhado pela música. Sou muito agradecido pelo convite do Mário e da Giulia. Chamei minha companheira pra fazer junto, o que me deu mais felicidade ainda. É muito importante o Mercado do Porto pra nossa cidade. Muita gente que faz o mercado acontecer, é mais que vender comida, ali são várias histórias de uma vida inteira. E nada é mais importante que Isso”, acrescentou.
‘Um retalho colorido das maravilhas’
“Minha participação na trilha sonora do documentário do Mercado do Porto, trazendo partes da letra e ritmos da música, foi trazer algo mais adocicado, que é a minha praia. Foi uma grande oportunidade vinda pela parceria do Estúdio Selvagem, e convite de Mário Olímpio. O filme, que com certeza me deu muita inspiração e gratidão, penso que seja só um retalho colorido das maravilhas que encontramos não só no Campo do Bode, mas em Cuiabá!”, exclamou Afra Catarse, atriz, herbalista e musicista.
‘Fraternas relações humanas’
“Muito importante participar desse trabalho. Poder conhecer sobre a trajetória da história do mercado do porto e suas fraternas relações humanas. Realizar a pesquisa histórica foi muito significativo”, disse o historiador e professor Maurim Rodrigues Costa, responsável pela pesquisa histórica da obra e pela narração do documentário.
‘O público vai encontrar muita verdade e aqueles que frequentam o Mercado vão se identificar’
Confira a íntegra da entrevista com o roteirista e diretor do documentário ‘Mercado do Porto, um passeio na cultura de Mato Grosso’:
Fale sobre o projeto do documentário.
O projeto nasceu há mais de 6 anos, quando comecei o meu trabalho de pesquisa e desenvolvimento de um processo de organização jurídica e política com os permissionários do Mercado. Foi amadurecendo e em 2020, como advento da Lei Aldir Blanc em Mato Grosso apareceu a oportunidade de registrarmos a história deste importante centro sócio cultural em vídeo. Foi gratificante.
O que o público poderá esperar deste mergulho histórico?
É um documentário simples, mas bastante honesto e sincero. A ideia é a gente mostrar o que o Mercado tem de melhor, que são as pessoas que ali vivem e trabalham. Não tínhamos a pretensão de fazer uma obra de arte, apenas fizemos uma homenagem a essas pessoas. O público vai encontra muita verdade e aqueles que frequentam o Mercado vão se identificar.
Comente sobre o papel da Secel no apoio a um projeto desta envergadura.
A SECEL MT, por meio da Lei Aldir Blanc, viabilizou o projeto. Não só este, mas mais de 30 milhões de reais em projetos. Com a gestão corajosa e ousada do secretário Beto Dois a Um, com uma equipe azeitada e comprometida, eles mudaram a cara do investimento publico na cultura. Poucos estados brasileiros conseguiram tal façanha.
O projeto envolveu um leque importante de personagens que traduzem a história antiga e contemporânea do Mercado do Porto. Por favor, comente sobre.
Trabalham no Mercado mais de 160 permissionários/feirantes, uma grande parte começou ali ainda criança, juntos com os pais. Se somam a esses feirantes as suas famílias e os funcionários e teremos um centro onde mais de 1 mil pessoas trabalham e convivem num processo vivo e dinâmico de conflitos e mediações, interesses e desejos. Mistura-se a tudo isto as mais de 4 mil pessoas que circulam por ali, consumidores, visitantes e usuários e temos um dos centros culturais mais movimentados de Mato Grosso. É isto que o Mercado do Porto é: um patrimônio cultural do nosso estado.
O projeto também envolveu vários profissionais do áudiovisual cuiabano, em sua maioria jovens que estão fazendo a diferença nesta área no Estado. Por favor, comente sobre.
Foi uma felicidade imensa. A gente teve o problema da covid. O documentário foi gravado em julho e agosto de 2021, na fase tensa da pandemia. Tomamos todas as precauções, dentre elas a diminuição da equipe. Trabalhamos com um grupo conciso, mas muito animado, criativo e comprometido com a ideia. O resultado do trabalho, o documentário pronto e publicado, é uma conquista deles, de cada um deles, profissionais que estão se estabelecendo no mercado cultural, com muita certeza de sucesso.
O projeto chega em um momento em que o Mercado passa por sua segunda maior transformação em sua existência, com a modernização do espaço e a introdução de novos serviços e mais qualidade para o consumidor. Comente sobre e agregue o que esta nova transformação traz.
O melhor do Mercado é a sua gente. Os feirantes amam o que fazem e se entregam na lide cotidiana com dedicação e compromisso. Mas, são muitos os desafios, dentre eles a dependência muito grande da prefeitura de Cuiabá, que faz uma administração burocrática, centralizadora e auto restritiva do Mercado, inibindo a iniciativa e desestimulando a organização. As reformas físicas que estão sendo feitas não irão significar grandes avanços se não houver uma política efetiva e orgânica de gestão compartilhada, enfrentando os tabus e costumes nocivos à coletividade e provocando um movimento de crescente e duradouro progresso. Eu acredito que só a boa vontade e o trabalho coletivo podem garantir tempos melhores para os feirantes e para o usuário consumidor.
Algo que você gostaria de acrescentar?
Quero agradecer aos feirantes e à equipe do documentário e esperamos que a gente esteja contribuindo para engrandecer mais o patrimônio cultural cuiabano.
Patrimônio Histórico, Artístico e Cultural Imaterial
Pela importância do Mercado do Porto de Cuiabá, o deputado Eduardo Botelho apresentou na Assembleia Legislativa de Mato Grosso, em 3 de março de 2020, o Projeto de lei nº 143/2020 que Declara Patrimônio Histórico, Artístico e Cultural Imaterial do Estado de Mato Grosso o Mercado do Porto de Cuiabá. Dez dias depois o projeto de lei recebeu parecer favorável da Comissão de Educação, Ciência, Tecnologia, Cultura e Desporto, sendo aprovado pelo colegiado. Em seguida, no dia 1º de julho de 2020, o projeto foi enviado para apreciação em plenário. E no dia 14 de setembro de 2021 a lei foi sancionada pelo governador Mauro Mendes.
O documentário Mercado do Porto, um passeio na cultura de Mato Grosso já está concluído [confira o link no final do texto] e será distribuído para canais de televisão públicos e privados, além de plataformas de streaming e canais de mídias sociais na internet, estimando-se que mais de 1 milhão de pessoas terão acesso gratuito ao produto.
Assista abaixo o documentário: