Sempre Dalva, seis décadas de criação em 135 obras

Equipe que cuidou do projeto fala sobre o desenvolvimento das etapas da galeria virtual da grande artista mato-grossense

Da Assessoria

(Fotos da Dalva e do Mário: Fred Gustavos)

O projeto Sempre Dalva chega a mais uma etapa. Oficialmente falando é a etapa final, a reunião das obras selecionadas no espaço virtual a sua disponibilização para o público. Mas para o produtor cultural Mário Olímpio, que desenvolveu toda a concepção do projeto, há fases seguintes, como, por exemplo, estimular as pessoas a percorrerem a vida e obra de Dalva de Barros, familiarizando com o universo da grande artista. 

A galeria virtual do projeto Sempre Dalva traz 135 obras da artista plástica, cobrindo seis décadas de produção ininterrupta. Mario Olimpio explica que a curadoria visou simplificar a apresentação das obras da artista cronologicamente. As obras da Dalva – destacou o produtor – permitem, falando em curadoria, inúmeras curadorias, apresentando inúmeros momentos, aspectos e matérias por ela trabalhados. A cronologia facilita ao público a compreensão da dimensão e riqueza da produção da artista.

Além das imagens das obras, todas fotografadas em alta resolução, a pessoa que visitar o site vai encontrar 85 arquivos em áudios gravados pela própria artista durante a sessão de curadoria e organização das imagens, falando das pinturas, do seu processo criativo e passagens da sua vida. Esses áudios receberam pouca edição e estão, também, reunidos num guia de podcast no site.

“A Dalva dispensa qualquer tipo de apresentação. Ela é uma pessoa e artista que chegou naquele momento em que é unanimidade. Não há quem questione a importância dela para a cultura mato-grossense. A gente poder mostrar um pouco desse trabalho, flexibilizando o acesso, democratizando, difundindo o patrimônio artístico e cultural, com a Dalva nos acompanhando, é muito prazeroso e um privilégio”, afirmou Mario Olimpio [confira a íntegra da entrevista com ele abaixo].

Além do Mario, nós ouvimos três outros profissionais que trabalharam no projeto Sempre Dalva. São eles: a designer Nara Selva, que criou a identidade visual do projeto; o fotógrafo Fred Gustavos, que reproduziu todas as 135 obras que compõem o acervo virtual; e Rafael Martins, CEO Tecnoon Tecnologia & Inovação, a empresa que desenvolveu o site sempredalva.com.br.

‘Alimento aos olhos’

“Todo fotógrafo tem um pouco da ânsia de um colecionador. Somos ávidos por imagens, momentos, saímos a procura do encontro, de documentar fragmentos da vida. O trabalho de fotodocumentar as obras de Dalva de Barros foi uma dessas aventuras que me alimenta os olhos”, afirmou Fred Gustavos.

Fred Gustavos, fotógrafo (foto: Pedro Duarte)

“Ao convite e companhia do Mario, fomos a muitos campos à procura da numerosa e dispersa produção de Dalva que residem em acervos particulares e públicos. Cada encontro com as obras, sempre ricas de figuras singelas, cotidianas, nostálgicas e de cores vívidas foi marcado por muitas histórias que ramificam afetos e curiosidades de ‘ter uma Dalva’ no acervo”, pontuou ele.

E complementou: “Ao final da jornada pelas obras, fomos ao encontro da raiz criadora. Dalva é a própria aura de sua obra, acolhedora ao olhar, de gestos simples, de falas curtas e insuspeitas, aguçada de memórias e produz continuamente, colecionando afetos de cenas do dia-a-dia das pessoas, da cidade, do futebol… Enfim de tudo aquilo que desde sempre consolidou seu fazer artístico e persiste.”

‘Um desafio delicado’

Nara Selva, designer

“Criar a Identidade Visual do projeto Sempre Dalva foi uma oportunidade de eu me conectar com a artista através do estudo das cores, formas, pinceladas e temas que ela aplica em seu trabalho. Sua assinatura é o ponto de partida para o logotipo do projeto, e é também a protagonista da Identidade Visual. Reproduzir seus traços foi um desafio delicado, feito com muito cuidado. Todos os elementos de design aplicados neste projeto procura garantir que suas obras sejam o destaque sempre. Me senti inspirada e honrada de trabalhar para o projeto Sempre Dalva”, se pronunciou Nara Selva.

‘Valorizar a visualização’

Rafael Martins, CEO Tecnoon Tecnologia & Inovação

“Está sendo um experiência bem interessante e desafiadora desenvolver a plataforma do projeto Sempre Dalva, uma vez que o foco e objetivo do projeto que foi nos passado pelo produtor executivo Mario Olimpio foi sempre valorizar a visualização e a experiência de apreciação das obras no meio digital. Dito isso, buscamos usar ferramentas modernas de desenvolvimento para que mesmo com pouca internet o usuário possa carregar as obras no seu celular ou computador e ter uma boa experiência na navegação da plataforma. Nós, da Tecnoon Tecnologia & Inovação, ficamos muitos felizes em poder contribuir um pouco para digitalização da cultura da nossa cidade”, afirmou Rafael Martins.

‘Foi um trabalho de pesquisa bastante intenso e criterioso’

Confira a íntegra da entrevista com Mario Olimpio:

Mario e Dalva

Fale sobre como você pensou o projeto Sempre Dalva e da importância de homenagear uma artista mato-grossense tão importante.

A provocação veio do Adriângelo Antunes, que é artista e é sobrinho da Dalva. Quando a Secretaria de Cultura, Esporte e Lazer do Estado lançou os editais da Lei Aldir Blanc, o Adiângelo me perguntou o que eu achava de elaborar e produzir um projeto sobre a Dalva. Daí a gente pensou em fazer essa galeria digital para circular na internet com imagens do maior número de obras da Dalva possível.

E também da importância de uma homenagem em vida…

A Dalva dispensa qualquer tipo de apresentação. Ela é uma pessoa e artista que chegou naquele momento em que é unanimidade. Não há quem questione a importância dela para a cultura mato-grossense. A gente poder mostrar um pouco desse trabalho, flexibilizando o acesso, democratizando, difundindo o patrimônio artístico e cultural, com a Dalva nos acompanhando, é muito prazeroso e um privilégio.

Falando da importância desse edital Conexão Mestres da Cultura, da Lei Aldir Blanc, comente sobre a iniciativa da Secretaria de Cultura, que nos parece ter sido algo inédito no país, com grande aproveitamento dos recuros.

A atuação da Secretaria de Cultura, Esporte e Lazer do Estado na Lei Aldir Blanc é um caso de sucesso já reconhecido no Brasil inteiro. Talvez nenhum outro estado tenha realizado um trabalho tão eficiente, inclusivo, democrático e eficaz. Mérito do secretário Beto Dois a Um, do Paulo Traven, do Jan Moura, da Eliane e de toda uma equipe azeitada e comprometida com a cultura.

Como foi o trabalho de prospecção dos colecionadores e colecionadoras e a receptividade deles em relação ao projeto?

Foi um trabalho de pesquisa bastante intenso e criterioso. A Dalva tem obras espalhadas por esse Brasil todo e em Cuiabá. Fomos atrás de pessoas que tinham uma, duas obras….e outras que colecionavam mais obras. Foi muito enriquecedor. Cada colecionador tinha uma história para contar e depois a gente fez duas sessões de curadoria e validação com a Dalva e vieram mais um monte de história. Saí mais instruído de todo esse processo. 

Quais foram as maiores dificuldades para a realização do projeto?

Sem dúvidas a pandemia de covid 19. Ela afastou as pessoas e muitos colecionadores preferiram não nos receber presencialmente para fazer a catalogação e as fotos. A gente entende perfeitamente. Mesmo tomando todos os cuidados, não é recomendável tanto contato.

Você consideraria que o projeto, que lança mão de recursos virtuais, pode ser um modelo para o resgate das obras e vida de outros artistas plásticos?

A internet é a realidade aumentada. Tudo que existe analogicamente ganha uma dimensão muito maior quando migrada para o espaço cibernético. O artista, de qualquer segmento, que queira circular e difundir a sua obra, precisa estar na internet e dominar as suas linguagens, mídias e processos. Com a Dalva, começamos esse processo agora, com esse projeto. O caminho é longo e temos muito por fazer ainda. O projeto não para por aqui…ele continua Sempre Dalva.

Algo que você gostaria de acrescentar?

O projeto mobilizou ou monte de pessoas, quero agradecer, além da Dalva, sempre generosa e paciente, ao Fred Gustavos, fotógrafo, Adriângelo e Dorian Antunes, sobrinhos e colaboradores, Vivianne Marques, João Negrão, Gabriel Giuliatti, Nara Selva e especialmente aos colecionadores, cujos nomes estão nas obras mostradas no site.

Os colecionadores

Diana Torres Esgaib é uma das colecionadoras das obras de Dalva de Barros que abriu seu acervo de 17 obras ao projeto Sempre Dalva: “Sou uma fã incondicional de Dalva e admiradora de todos os artistas mato-grossenses. Acompanhei essa rapaziada toda desde o começo de 1980, frequentava os ateliês, fiz amizade com todos dessa época, e a Dalva era muito especial para mim. Sou admiradora da Dalva e acho esse resgate das obras dela, esse projeto da Dalva, um trabalho maravilhoso. Fico feliz”.

O empresário Ronaldo Rodrigues é admirador de Dalva de Barros desde que, há 34 anos, fundou a sua Casa das Molduras, na rua 24 de outubro: “A paixão pelas obras da Dalva começou ao receber suas pinturas para serem emolduradas. Isso me despertou sobre seu trabalho e a conheci no Ateliê Livre da UFMT. A partir de então fui adquirindo as obras dela”.

O primeiro contato do advogado Murillo Espinola com as obras de Dalva de Barros foi justamente na Casa das Molduras: “Eu cheguei em Mato Grosso no final do ano 1986, no interior do Estado, em Tangará da Serra. No início de 1988, vim para Cuiabá, foi quando comecei a me interessar pelas artes do nosso Estado. O primeiro contato foi no antigo espaço cultural do então Restaurante Regionalíssimo, no Bairro do Porto. Ali, comecei a pesquisar e ter contato com a obra da Dalva de Barros, mas com os trabalhos propriamente ditos foi na Casa das Molduras, importante espaço que temos em nossa Capital, local de fomento, onde os artistas deixam suas obras para comercialização. Foi lá que adquiri meu primeiro trabalho. Uma paisagem da Salgadeira”.

O poeta cuiabano Nicolas Behr, hoje estabelecido em Brasília, não é exatamente um colecionador de Dalva de Barros, já que possui pouquíssimas obras da artista plástica. É um amigo querido dela, com memórias atávicas da menina-moça que orbitou sua vida deste antes de ele se entender como gente. Nicolas morou, durante sua infância, em Diamantino, cidade natal de Dalva.

“Conheci Dalva de Barros pessoalmente pelos idos de 2005, por aí. Fui à casa dela no CPA 2 e anos depois fiz uma viagem com ela e suas duas irmãs para Diamantino e região. Pedi que fizesse a ilustração da capa do meu livro Dicionário Sentimental de Diamantino. E ela o fez, fato que muito me orgulha.

Não gosto quando falam que a obra dela é primitiva nem naif. Na verdade, ela é sofisticadíssima na sua simplicidade (veja bem, o simples é muito difícil). Tudo bem que temos aí fotografias, filmagens, mas um retrato real de Cuiabá a Dalva faz como ninguém, na sua sensibilidade de mulher do povo, simples, religiosa e muito atenta a tudo que a cerca. Uma artista com o pé no chão, eu diria. Um chão cuiabano e por isso universal.”

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