Exposição é inspirada em proposta de Mario Pedrosa para a reconstrução do MAM-Rio depois de atingido por um incêndio em 1978. Para o crítico, além do restauro, devia se repensar o seu papel reunindo, ali, os museus de Arte Moderna; do Índio e do Inconsciente, que já existiam, e os museus do Negro e das Artes Populares, a serem criados.
Somando os espaços expositivos do Itaú Cultural e do Instituto Tomie Ohtake, Ensaios para o Museu das Origens se estende por 1,5 mil metros e abriga mais de mil peças. Como uma rede que reúne iniciativas de todo o país, a mostra apresenta obras de artistas, coletivos e mais de 20 instituições culturais e museus dedicadas à preservação e difusão da memória matricial brasileira.
Resultado de extensa pesquisa inédita, a exposição tem curadoria geral de Izabela Pucu e Paulo Miyada, curadoria adjunta de Ana Roman e participação dos curadores convidados Daiara Tukano e Thiago de Paula Souza. Abre no Itaú Cultural a partir das 20h de 6 de setembro (quarta-feira) e no Instituto Tomie Ohtake das 11h às 15h do dia 9 (sábado). Em ambas, permanece em cartaz até 28 de janeiro de 2024.
Embora a exposição ocupe dois espaços expositivos de instituições diferentes, ela é uma só. Pode ser visitada em qualquer ordem, mas é importante conhecer a montagem nos dois ambientes. Deste modo se faz um percurso pela história do Brasil, tomando a arte e a cultura como alicerces e passando pela memória de múltiplas ancestralidades.
“Esse gesto coloca em relação muitos gestos mobilizados por pessoas, coletivos e instituições envolvidos em preservar e difundir a memória das matrizes constitutivas do Brasil na sua diversidade. É uma lembrança de que, apesar de atravessado por práticas de apagamento da história, este país tem memórias resguardadas em pessoas e lugares múltiplos, os quais se tornam mais fortes quando estão em comunidade. Dessa forma, o passado pode alimentar projetos coletivos de futuro”, destacam os curadores.
“Consideramos esta exposição de extrema importância para contribuir na reflexão sobre temas como memória, preservação de acervos e do patrimônio cultural e artístico. É importante conhecer essas iniciativas e estimular a relação entre elas e outras tantas com semelhante atuação e missão para fortalecer a nossa memória patrimonial”, diz Sofia Fan, gerente do Núcleo de Artes Visuais e Acervos do Itaú Cultural. “A parceria com o Instituto Tomie Ohtake, com o qual já nos unimos em outras oportunidades, permite que a exposição tenha maior abrangência”, completa ela.
A mostra
Ensaios para o Museu das Origens deriva de proposta de Mario Pedrosa para a reconstrução do MAM-Rio depois de atingido por um incêndio em 1978. Para ele, além do restauro, era necessário repensar o papel do museu. Em sua Proposta para o Museu das Origens, o crítico sugeria reunir naquele espaço cinco instituições: Museu de Arte Moderna; Museu do Índio; Museu do Inconsciente – instituições que já existiam e passavam por dificuldades de funcionamento e formalização –; Museu do Negro; Museu das Artes Populares, a serem criados.
O projeto de Pedrosa não avançou. Entretanto, foram surgindo iniciativas próprias e individuais por diversos estados do país. Após ampla pesquisa, os curadores as reuniram nesta exposição, que exibe conjuntos de obras e documentos de seus acervos diversos em suas matrizes culturais. Assim, estas instituições formam uma espécie de rede das origens e de gestos de memórias funcionando em diálogo entre si, como experiências críticas de construção de memória e preservação do patrimônio cultural, material e imaterial em todo o país.
Algumas são mais conhecidas, como o Museu do Índio, Museu de Imagens do Inconsciente, Museu de Arte Moderna, Museu da República, Museu Histórico Nacional, e Museu do Negro (do Instituto de Pesquisas e Estudos Afro-Brasileiros/Ipeafro), no Rio de Janeiro; o Museu de Arte Moderna da Bahia; Museu de Arte da Universidade Federal do Ceará, Parque Nacional da Serra da Capivara, no Piauí, e Museu de Arte Contemporânea (MAC-SP), Museu Afro Brasil Emanoel Araujo e a Fundação Bienal, em São Paulo.
Outras instituições têm menos notoriedade nacional, mas são de igual importância, como o Acervo da Laje, da Bahia; Bloco Carnavalesco Loucura Suburbana, Cais do Valongo e o Museu das Remoções, no Rio de Janeiro; Museu Arqueológico de Sambaqui de Joinville (SC); Museu do Homem do Nordeste, em Pernambuco; Museu Paraense Emílio Goeldi e Museu Marajó, no Pará; Rede de Museus Indígenas do Ceará – Museu Kanindé; Museu Pitaguary e Museu Jenipapo Kanindé –; Museu dos Quilombos e Favelas Urbanos – Muquifu, Museu da inconfidência (MG), e Mina Du Veloso, de Minas Gerais, e, de São Paulo, Casa do Povo, Comunidade Cultural Quilombaque, Discoteca Oneyda Alvarenga, Memorial da Resistência, Museu da Diversidade Sexual e Museu de Arte Osório Cesar.
Todas estão presentes na exposição. Juntam-se a elas, obras de artistas como Djanira, Fernando Diniz, GTO, Mira Schendel, Nailson, Pecon Quena, Sebastião Januário, Tarsila do Amaral, Ubirajara. Há, ainda, trabalhos comissionados de Andréa Hygino, Castiel Vitorino Brasileiro, Diambe, Josi, Mariane Lima, Spirito Santo e Yael Bartana.
Diante da ampla diversidade e quantidade de peças, além de o diálogo que foi se estabelecendo entre umas e outras, a curadoria optou por desenvolver a mostra em círculos crescentes, a partir dos objetos, histórias e projetos de Mario Pedrosa, seguidos de núcleos documentais e conjuntos expressivos desses lugares.
Elas funcionam como rodas de conhecimento, por meios de acervos expressos em contextos que tornam perenes os legados de um país rico em narrativas, diversos em suas matrizes culturais e permeados por reinvindicações de direitos de existir com dignidade e cidadania.