É preciso falar abertamente dos covardes, dos perfumados e decorativos que não são conscientes do papel político que precisam exercer
Por João Orozimbo Negrão
No meu texto anterior, que titulei “Carta aberta ao presidente Lula: a covardia de seus ministros das áreas afirmativas”, denunciei o descaso de ministros como Paulo Teixeira, do Desenvolvimento Agrário, e da Igualdade Racial, Anielle Franco, para com medidas importantes para o público que estas pastas devem contemplar.
Agora quero falar com aqueles que não entenderam a minha crítica à covardia política desses ministros.
Para começarmos a falar de covardia política, precisamos entender o papel de um ministro de Estado. O papel dele é eminentemente político! E político, aqui também se entenda, a possibilidade de se movimentar nas esferas do poder, se posicionar e empreender na imposição de sua função institucional. Inclusive cobrando verbas e estrutura para que suas atividades aconteçam.
Um exemplo simples: os ministérios da Mulher, da Igualdade Racial, dos Direitos Humanos e o criado Ministério dos Povos Indígenas ganharam o nome de “ministérios” e não apenas de secretarias com status de ministérios.
Isto porque não basta apenas o status. A terminologia é que dá o poder, o status de fato, o que permite ao ministro se impor política e institucionalmente dentro e fora das hostes governamentais.
Nesta imposição cabe o posicionamento público diante do que se espera dele. Quando um ministro frequenta veículos de comunicação para falar de qualquer coisa, quem está ali é a pessoa do ministro, não a figura institucional. Ele vai se revestir de ministro quando falar dos assuntos de interesse de sua pasta.
Outro dado concreto (diria Lula, uma expressão que gosto) é que o ministro quando expressa publicamente temas referentes a sua pasta ele transita uma posição política que provoca o debate, alerta a sociedade e reveste o tema em importância. Uma coisa é um ministro comentar sobre uma CPMI do INSS. Outra coisa é o ministro falar da reforma agrária e do necessário apoio à agricultura familiar, confrontando com coragem os opositores de sua obrigação política e institucional.
Eu nem vou pedir que Paulo Teixeira fale em luta contra o latifúndio. Longe disso. Ele não é do ramo. Não teria coragem mesmo. Ademais, aqui não é uma limitação não apenas dele, mas do governo de coalisão em que está assentado.
No entanto esse ministro perfumado poderia vir a público falar, por exemplo, de casos como o que ocorreu em Itanhangá, Mato Grosso, onde grileiros com apoio da PM botaram para correr funcionários do Incra que foram entregar os títulos de propriedades a posseiros que esperavam há décadas pela presença justa do Estado brasileiro.
Os funcionários do Incra, assim como as famílias de assentados, foram ameaçados de morte e quase espancados porque o órgão, comandado por Paulo Teixeira, sequer acionou a Polícia Federal para dar suporte à ação de seus agentes públicos.
(Conheça o caso aqui: https://apublica.org/nota/fazendeiros-ameacam-assentados-da-reforma-agraria-e-servidores-do-incra-em-mato-grosso/)
E muito menos Teixeira fez um contraponto político à posição hostil e beligerante de políticos locais, como prefeito, vereadores, deputados e até o governador de Mato Grosso. Nenhuma declaração do ministro para fortalecer a posição de seus comandos e do governo que representa.
Covardia ou desconhecimento? Em ambos os casos, incompetência.
Vamos a outro exemplo, desta vez com a ministra Anielle Franco, que ficou praticamente muda diante de um caso de racismo religioso, institucional e estrutural que foi aquela invasão da escola em São Paulo por policiais militares acionados por um pai fundamentalista. Sua filha havia desenhado um orixá como atividade escolar do Novembro Negro.
Pois bem: era uma atividade ínfima, diante do que se prevê a Lei Dezmeiatrêsnove, mas fenomenal pelo trabalho que desenvolvem professores, coordenadores e diretores de escolas com os parcos recursos que possuem.
Isto porque, o cumprimento da lei não tem amparo do Estado brasileiro, que tem uma ministra da Igualdade Racial que não deu as caras até agora para defender de forma corajosa a aplicação da legislação que obriga o ensino da História e da Cultura Africana e Afro-brasileira nas escolas brasileiras.
É por esta razão que precisamos falar abertamente dos covardes, dos perfumados e decorativos que não são conscientes do papel político e institucional que são obrigados a exercer.
Paulo Teixeira e Anielle Franco são dois deles. Tem outros. Voltaremos ao assunto.
* João Orozimbo Negrão é um jornalista chato e desrespeitoso para com os covardes, sejam ministros do Lula ou não.
