Por meio da Lei Rouanet e editais como o Funarte Retomada, Cultura incentiva setor
“Adança é saúde, alegria, conexão, respeito, prazer, reflexão, criação, construção. Para mim, a dança é tudo”. Dessa forma, a renomada coreógrafa e bailarina Deborah Colker define a atividade escolhida por ela como trajetória profissional. Fundadora da companhia que leva seu nome, a multiprofissional representa uma classe celebrada neste 1.º de setembro, Dia da Bailarina e do Bailarino.
Arte que atrai e encanta o público há mais de cinco séculos em todo planeta, o balé é uma das expressões culturais incentivadas por ações do Ministério da Cultura (MinC). “Temos reconhecimento mundial quando pensamos na fusão da música com a expressão corporal, seja na dança contemporânea ou nas danças tradicionais e populares. Nossas ações envolvem incentivo à qualificação, ao reconhecimento da profissionalização, à valorização. Além de editais do Funarte Retomada, eventos nacionais, festivais e espetáculos têm o incentivo via Lei Rouanet”, comemora a ministra Margareth Menezes.
“As palavras bailarina e bailarino são também utilizadas para nomear os atuantes das danças contemporâneas, modernas e de outras modalidades, que se dedicam ao estudo e à prática das danças cênicas”, complementa o diretor de Artes Cênicas da Fundação Nacional de Artes (Funarte), o bailarino Rui Moreira.
Entusiasta da manifestação artística que exige muita dedicação e cuidado com o corpo, Rui praticou e dançou os balés clássicos de repertório Le Corsaire e Quebra Nozes. Daí para ganhar o mundo, foi um salto. Apresentou-se em países da América do Sul, Central e do Norte, além da Europa (Ocidental e Oriental), da Ásia, da África e da Oceania. “O Brasil produz danças maravilhosas e a Funarte, em sua retomada, fortalece fomento para criação, formação e difusão envolvendo os artistas da dança”, ressalta.
Ele alerta ainda sobre a prorrogação do prazo de inscrições do Funarte Retomada, que vai até a próxima segunda-feira (04). Confira o edital aqui.
Figura idealizada, a bailarina é inspiração para diversas áreas da cultura. Na música Ciranda da Bailarina, de Chico Buarque e Edu Lobo, são citados vários defeitos humanos, “só a bailarina que não tem”. O premiado filme brasileiro Pacarrete, do diretor Allan Deberton, conta a história de uma bailarina aposentada. Entre oito Kikitos no Festival de Gramado, estão o de Melhor Filme, Melhor Roteiro e Melhor Atriz, para Marcélia Cartaxo. Isso sem contar outras dezenas de prêmios pelo mundo: Índia, Estados Unidos, China.
Integrante do mundialmente reconhecido Grupo Corpo, Karen Rangel revela os desafios da carreira. Ela conta ser uma dificuldade para as pessoas entenderem que ela não tem uma profissão “padrão”. “Quando falo que minha profissão é bailarina, algumas pessoas me questionam: até quando? Existe um preconceito para entender que se pode viver da dança. A dança é um sonho que eu escolho viver todos os dias”.
Karen encontrou mais certezas nos delicados passos rumo à qualificação de bailarina quando se apresentou no Hollywood Bowl, nos Estados Unidos. A apresentação para um público de 18 mil pessoas teve a participação especial da Filarmônica de Los Angeles. “Saí em êxtase. Difícil superar esse momento”, emociona-se.
O bailarino Diego Dourado iniciou sua trajetória em Ribeirão Preto (SP) e, como brinca, “já são 20 anos de relacionamento”. “Estar no palco é sempre um turbilhão de emoções e eu amo as trocas em sala de aula e ensaios. São sempre momentos singulares. Saber que inspirei outras pessoas a seguir na carreira é maravilhoso”, comemora.
Apoiado pelos pais, ele se considera um privilegiado, pois existe muito preconceito envolvendo bailarinos, especialmente duas décadas atrás. “Eu costumo dizer que o balé me salva todos os dias. Não consigo imaginar minha vida sem a dança. Apesar de ser uma relação complexa [de satisfação e frustração] não dá mais para dissociar. O balé me atravessa por todos os lados. É minha fonte de renda, minha válvula de escape”, confessa.
O coreógrafo Mário Nascimento classifica a dança como “um lugar de conexão com o mundo”. Ele também alerta para uma noção despropositada de que o artista não é trabalhador. “A arte está longe de ser um mero entretenimento. Ela tem um papel de discussão no mundo. Costumo dizer que a arte está aí para jardinar a aridez do mundo”. Ele também destaca ser “impressionante” a cultura popular brasileira. Entre os vários tipos danças nacionais estão o Boi-Bumbá, Frevo (Amazonas), o Frevo e o Maracatu (Pernambuco), o Fandango (Litoral Sul), o Carimbó (Pará) e, claro, o Samba.
Uruguaio radicado no Brasil, o bailarino e coreógrafo Marcelo Misailidis é outro profissional apaixonado pela dança. “1º de Setembro, dia que o poeta escreveu a poesia com o suor do seu corpo, dia que a pintura escapa a tela e toma conta do ar, a música ganha forma, peso e espaço, dia que a força da gravidade foi abolida da terra e brindamos a existência dos bailarinos”, festeja.
O protagonismo masculino no balé brasileiro tem importante capítulo no Ceará, onde atuou o coreógrafo e bailarino Hugo Bianchi. A paixão pela profissão era tão grande que ele fundou uma companhia em Fortaleza, na década de 1960, e acompanhava os trabalhos pessoalmente até falecer, aos 95 anos, em 2022. Ele foi responsável pela formação de grandes nomes do balé cearense, como Madiana Romcy e Monica Luiza – que perpetuam seu legado e levam às novas gerações a tradição secular de dança clássica.
Eventos com apoio do MinC
Duas grandes Companhias da modalidade contemporânea, o Grupo Corpo e a Cia Deborah Colker, têm incentivo do MinC por meio da Lei Rouanet.
Na primeira quinzena de agosto, a pasta apoiou a quinta edição do projeto de dança US4, com objetivo de potencializar a criação e a integração entre novos coreógrafos. O evento reúne quatro artistas que desenvolvem suas criações com os bailarinos do Ballet Jovem Minas Gerais e, ao final do processo, elas são apresentadas ao público.
No mesmo mês, o Teatro da Paz, em Belém (PA), recebeu o balé Floresta Amazônica, do Ballet Dalal Achcar. O espetáculo inspirado na sinfonia do compositor brasileiro Heitor Villa-Lobos, e com estreia de sua primeira versão em 1975, promove reflexão sobre a importância da floresta.
Foto: Valério Silveira/Ballet Dalal Achcar
Em junho, Porto Alegre foi palco da 3.ª edição do Festival Internacional de Dança (FIDPOA). Durante o evento, foi realizada uma seletiva para a final do mundial do YAGP, considerada uma das maiores competições de dança do planeta. O FIDPOA reuniu personalidades mundiais da Inglaterra, França, Itália, Rússia, Cuba, Paraguai, Alemanha e Estados Unidos.
Entre os participantes estavam o bailarino britânico Robert Parker Ghislain de Compreignac, professor de ballet clássico do Paris Marais Dance School; Claudia Zaccari, primeira bailarina do Teatro dell’Opera, em Rome; Stanislav Belyaevsky, renomado professor e bailarino de São Petesburgo; Caridad Martinez, bailarina cubana consagrada mundialmente; Miguel Bonnin, experiente diretor do Ballet Clássico Moderno de Assunção; Olaf Höfer e Kathrin Baum-Höfer, ambos da Escola Estadual de Ballet de Berlim.
Em maio, foi a vez da Mostra Paranaense de Dança, incentivada pelo MinC em parceria com a Associação Brasileira de Apoiadores Beneméritos do Teatro Guaíra (ABABTG). Foram promovidas oficinas para bailarinos a partir de 14 anos, dos níveis básico e intermediário.
Fortaleza e João Pessoa sediaram em março a XIII Jornada de Dança da Bahia, produção da Mantra Centro de Dança e realização da Escola Contemporânea de Dança. A mesma jornada teve como palcos, em abril, São Paulo e Belo Horizonte (MG), sempre com incentivo da Lei Rouanet
As cidades paulistas de Ipuã, Orlândia, Miguelópolis e Guaíra, promoveram, no primeiro semestre, Oficinas de Artes Usina da Dança. Voltado a crianças de sete até adolescentes de 17 anos da rede pública de ensino, as oficinas, em fevereiro passado, envolveram as categorias de balé, jazz e contemporâneo. A atividade integra o Plano Anual Agenda Cultural, realizado pelo MinC e o Instituto Oswaldo Ribeiro de Mendonça.
Lei Rouanet
Conhecida como Lei Rouanet, a Lei de Incentivo à Cultura é uma importante ferramenta de fomento à cultura brasileira há mais de duas décadas.
Criada em 1991, ela consiste em benefício de isenção fiscal às empresas apoiadoras de projetos culturais. Cabe aos responsáveis pela proposta a captação de entidades interessadas a patrocinar, após análise e aprovação da Secretaria de Economia Criativa e Fomento Cultural, vinculada ao MinC.
Fonte: MinC