Por João Orozimbo Negrão
Ah, Affonso! Quando Marina se foi eu chorei e pensei logo em você: como estará ele? corre o risco de ir logo também? E fui visitá-lo em minha estante. Não tinha nada de Marina, pois teria ido visitá-la. Mas você eu tenho. Vários. Percorri os dedos e parei no meu preferido “Que país é este?”. Marcou minha juventude e resgatou parte de minha própria história.
Me aquietei ali a partir da quarta estrofe (que é um relato perfeito de minha infância naquele Bárbara Souza de Moraes, minha escola do ginasial no Jardim Novo Mundo, em Goiânia, em que vivíamos sob uma ditadura cruel que deixou morrer meus irmãos Carlos e Angélica):
“Mas já soube datas, guerras, estátuas
usei caderno “Avante”
— e desfilei de tênis para o ditador.
Vinha de um “berço esplêndido” para um “futuro radioso”
e éramos maiores em tudo
— discursando rios e pretensão.
Uma coisa é um país,
outra um fingimento.
Uma coisa é um país,
outra um monumento.”
Ah, Affonso! Agora você se vai um mês quase que cravado depois de Marina e eu não consigo olhar para trás pra visitar você na minha estante.
Há um nó na garganta, Affonso. Mas eu, estranhamente, não consigo chorar.
Affonso, vou lhe confessar uma coisa. É uma coisa que quis lhe dizer quando – eu assessor de imprensa da Literamérica, a Feira Literária da América Latina em Cuiabá ocorrida em 2005, há exatos 20 anos – nos encontramos e sentamos (você, Marina e eu) para conversar:
– Affonso, você não me permitiu partir em meus momentos de extrema angustia de minha juventude porque você ficava sempre ali do meu lado na minha cabeceira.
Siga na luz, Affonso Romano de Sant’Anna! E dê um beijo na Marina por mim.
Que lindooo!!!
Escrito pelo que veio do fundo da almaaa…
Que lindo João!,!! Que bela expressão de carinho, cheguei sentir emoção em suas palavras, quando crescer, quero ser igual a você, nessa arte de se expressar!