Ecologia Integral: o futuro da Casa Comum depende de todos

por Ana Paula DaltoéInglêz Barbalho e Edla Lula

No artigo desta quinzena, embalados pelo Dia Mundial do Meio Ambiente, pelo aniversário da encíclica do Papa Francisco Laudato si’ e pelo Diálogos de Justiça e Paz que ocorrerá no próximo dia 05 de junho, pensamos sobre o futuro do planeta e abordamos a saúde planetária diante da crise climática e da mudança necessária para construir novos caminhos.

Nossa reflexão é sobre a Ecologia Integral e a consciência de que o futuro da Casa Comum depende de todos. Ecologia é a ciência que estuda as relações dos seres vivos entre si ou com o meio orgânico ou inorgânico no qual vivem. É o estudo das relações recíprocas entre o homem e seu meio moral, social, econômico. Quando pensamos em ecologia integral, pensamos na perspectiva de tomada de consciência da inserção do indivíduo na existência planetária, suas relações, interconexões e especialmente suas escolhas para o futuro do planeta e das próximas gerações.

Laudato si’, em português: ‘Louvado sejas’; subtítulo: “sobre o cuidado da casa comum”, é a 2ª encíclica do Papa Francisco e trata do meio ambiente e do desenvolvimento sustentável a partir da ideia da ecologia integral. Traz em sua essência a reflexão sobre o capitalismo moderno, o excessivo consumismo e o desenvolvimento irresponsável. Simultaneamente, convida à ação e à mudança, individual e coletiva, em ações locais e em unificação global, para combater a degradação ambiental e fazer frente à crise climática.

O lançamento da encíclica Laudato Si’, em 2015, lança as sementes para o reconhecimento das transformações do antropoceno no planeta. O conceito “antropoceno” – do grego anthropos, que significa humano, e kainos, que significa novo – foi popularizado em 2000 pelo químico holandês Paul Crutzen, vencedor do Prêmio Nobel de química em 1995, para designar uma nova época geológica caracterizada pelo impacto do homem na Terra.

De fato, o planeta passa por diversas situações que justificam o apelo do Papa Francisco por uma ecologia integral: o agravamento do aquecimento global, a crise climática e a pandemia da Covid19 são alguns exemplos dos efeitos danosos da industrialização predatória sobre “casa comum”.

A encíclica foi publicada oficialmente em 24 de maio de 2015 e é considerada o primeiro documento político totalmente escrito no papado de Francisco. Nela, o pontífice identifica e “condena a incessante exploração e destruição do ambiente, responsabilizando a apatia, a procura de lucro de forma irresponsável, a crença excessiva na tecnologia e a falta de visão política” como contribuintes para a destruição da Terra.

Laudato Si’dirigiu-se “a cada pessoa que habita neste planeta” com uma reflexão para o reconhecimento do estado de coisas e a necessidade de mudança em nível planetário é uma poderosa ferramenta que nos leva a muitos outros questionamentos.

Considerado um documento revolucionário por ecólogos e intelectuais do mundo inteiro, como o sociólogo francês Edgar Morin, o economista, também francês, Ignacy Sachs e o teólogo brasileiro Leonardo Boff, a Laudato Si’ inovou ao ampliar a discussão ambiental para além da preservação da natureza, ao usar a expressão “ecologia integral”, apontando para uma crise complexa, em que todos os sistemas estão interligados e sofrem juntos as consequências dessa crise ecológica.

O título da encíclica corresponde às primeiras palavras do Laudato si’, mi’ Signore, de Francisco de Assis. A oração-poema é permeada por uma visão da natureza como reflexo da imagem do seu Criador e com sentido de fraternidade entre o Homem e toda a criação divina. No texto, o Papa Francisco rechaça a visão “antropocêntrica” dos discursos e políticas públicas voltadas ao meio ambiente e condena o paradigma “tecnoeconômico” do sistema capitalista.

As afirmações da encíclica sobre as alterações climáticas estão de acordo com consenso científico. No documento, além de resposta às expectativas das comunidades religiosas, ambientais e científicas internacionais, bem como de lideranças políticas, econômicas e dos meios de comunicação social acerca da crise representada pelas mudanças climáticas, Francisco deixou claro que espera que a encíclica influencie a política energética e econômica, e que estimule um movimento global por mudanças, para deter a “deterioração global do ambiente”.

A leitura da Laudato Si’é imprescindível https://www.vatican.va/content/francesco/pt/encyclicals/documents/papa-francesco_20150524_enciclica-laudato-si.html

Na encíclica o Papa Francisco afirma que “as alterações climáticas são um problema global com implicações graves: ambientais, sociais, económicas, políticas e de distribuição de riqueza. Representam um dos principais desafios que a humanidade enfrenta nos nossos dias” e lança o alerta para “a destruição sem precedentes dos ecossistemas, que terá graves consequências para todos nós” se não forem realizados esforços de mitigação de forma imediata.

A Encíclica tem seis capítulos trazendo o fundamento da discussão dos próximos 100 anos da humanidade: Capítulo 1: análise da situação planetária a partir do conhecimento científico disponível; Capítulo 2: conexão entre o conhecimento científico e os ensinamentos da Bíblia e da tradição judaico-cristã; Capítulo 3: o excessivo fechamento autorreferencial do ser humano como a raiz dos problemas; Capítulo 4: proposta da solução a partir da “ecologia integral”, que inclui múltiplas dimensões humanas e sociais, indissoluvelmente ligadas com a questão ambiental; Capítulo 5: a necessidade do diálogo, em todos os níveis da vida social, econômica e política, para estruturar processos de decisão transparentes; e, finalmente,o Capítulo 6 recorda que é necessário desenvolver a consciência e o crescimento educativo, espiritual, eclesial, político e teológico.

Destacamos a questão da Encíclica: “Que tipo de mundo queremos deixar a quem vai suceder-nos, às crianças que estão a crescer?” (160) como uma pergunta que integra todos os aspectos da vida. É uma pergunta fundamental pois compreende a questão de modo integral e conduz a um questionamento sobre o sentido da existência e sobre os valores que estão na base da vida social, razão pela qual questão essenciais são abordadas.

“Para que viemos a esta vida?”, “Para que trabalhamos e lutamos?”, “Que necessidade tem de nós esta terra?”são questões pivotantes trazidas pelaLaudato Si´em uma exortação a uma conversão ecológica, que permita assumir o cuidado da “casa comum”.

Passados oito anos do lançamento formal da encíclica, o “Diálogos de Justiça e Paz” pretende discutir os avanços e retrocessos no campo da ecologia integral, a partir do documento pontifício. O tema proposto para reflexão é “Ecologia Integral: o necessário compromisso com o futuro da Casa Comum”. O evento será no dia 05 de junho, segunda-feira, Dia Mundial da Ecologia, às 19h, no auditório do Centro Cultural de Brasília (CBB), SGAN 601 Norte, com transmissão simultânea pelo Youtube do Observatório Nacional de Justiça Socioambiental Luciano Mendes de Almeida OLMA.

O Diálogos do próximo dia 5 contará com os convidados Vercilene Francisco Dias, quilombola Kalunga e Advogada Doutoranda em Direito pela UnB; Luiz Felipe Lacerda, Psicólogo, doutor em Ciências Sociais e Secretário Executivo do OLMA e Felício Pontes, Procurador do Ministério Público Federal e Assessor da REPAM de Brasília. A mediação será conduzida por Ana Paula Inglêz Barbalho, que vos escreve em conjunto com Edla Lula o presente artigo.

O “Diálogos de Justiça e Paz” é uma parceria entre Observatório Nacional de Justiça Socioambiental Luciano Mendes de Almeida (OLMA), Comissão Justiça e Paz de Brasília (CJP-DF), o Centro Cultural de Brasília (CCB) e Comissão Brasileira de Justiça e Paz (CBJP). Convidamos todos a participar presencialmente, no auditório do CCB ou a acompanhar pelo canal do YouTube do OLMA @olmaobservatorio.

(*) Por Ana Paula DaltoéInglêz Barbalho, Vice-Presidente da Comissão Justiça e Paz de Brasília e Edla Lula, membra da Comissão Justiça e Paz de Brasília

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