Marisol Kadiegi, fotógrafa angolana, radicado no Brasil desde 1986, lança livro digital de memórias. O evento será on-line no sábado 27 de agosto às 19:30h.
Da Assessoria
A fotógrafa e documentarista angolana Marisol Kadiegi, radicada no Brasil, está lançando o livro “Em mim mora memórias de uma Angola”, pela editora Oribê (Taguatinga-DF). Aobra surge a partir da necessidade de preencher uma lacuna dianteda percepção da autora na falta de referências nos diversos campos de pesquisa sobre o povo negro e como forma de preservação de memórias vividas em Angola.
Esta vivência compreende uma década, entre os anos de 2007 e 2017, que foi quando ela retornou ao seu país, depois de, por causa da Guerra Civil Angolana, ter sido retirada e obrigada a ficar fora da pátria mãe durante 31 anos, vivendo inicialmente em Portugal e depois no Brasil.
Na obra Marisol Kadiegi tece uma colcha de retalhos com pedaços de sua história para reconstituir ou reter a memória da qual um dia foi subtraída. Neste livro, Angola é representada sob o olhar de uma de suas filhas, onde a ancestralidade, a identidade, as tradições e a cultura são uma conexão chamada de memórias.
Entre três continentes
A Guerra Civil Angolana começou em 1975 e durou, entre cessar fogos, retomadas e acordos de paz, até 2002. A guerra, que deixou milhares de mortos e feridos, começoulogo depois da Independência do País, conhecida também por Luta Armada de Libertação Nacional. Foi um conflito armado entre as forças independentes de Angola, cuja luta de libertação do colonialismo português iniciou em 1966.
Marisol Kadiegi saiu de Angola em 1976, retirada praticamente à força de seus familiares que foram se dispersando à medida que eram ameaçados pelos combates. Foi levada ainda menina a Portugal, chegando em março daquele mesmo ano e residindo até 1986. A autora chegou ao Brasil em dezembro desse mesmo ano, posta, portanto, na América do Sul.
Kadiegi, com a ajuda de amigos, nunca deixou de procurar sua família de quem, depois de saída de Angola, nunca mais teve notícias. Contudo, como o seu sobrenome, Kadiegi, que na sua língua materna, o kimbundu, significa “folha pequena levada pelo vento” ou ainda “lua pequena”, em 1998 ela consegue retornar a Angola para reencontrar os seus 24 anos depois.
A autora faz um novo retorno ao país onde nasceu em 2007, agora, como jornalista e contratada pela Televisão Pública de Angola (TPA), onde é lotada na Direção de Programas, Departamento de Documentários. Foi ali que teve a oportunidade de dirigir e produzir filmes documentais focados na realidade cultural e social. “Foi também o meu encontrar. Cada filme que fazia, encontrava um pedaço de mim, perdido durante todos os anos de ausência”, pontua Marisol.
Em 2017, a artista resolve voltar ao Brasil, já que seus filhos – Pedro Akil e Odara– aqui ficaram. Foi quando surgiu a pós-graduação que tem como resultado esse livro, uma pesquisa sobre memória tendo como ferramenta a fotografia.
Sobre o livro
O livro é dividido em quatro partes, as quais a autora chamou de Memórias.
Assim, na primeira memória, Afrografias:as árvores da minha vida, a autora rememorasua relação com as diversas árvores que ela sentiu terem lhe pedido para que as fotografasse. Ali, ela se vê raiz que percorre subterraneamente o solo angolano, e posta tronco, folhas, flores e frutos, buscando seu lugar na terra onde tem o umbigo enterrado.
Na segunda memória, Kadiegiconvida os leitores a serem guiados pelos Caminhos que percorreu até se entender como um corpo racializado, crítico e reflexivo, já que em algumas vezes na vida isso lhe foi negado pelo sistema colonialista e racista.
Marisol segue ao encontro de seu povo na memória três, Povos de Angola. Aliela buscasuas origens, um pouco de cada povo que constitui a imensa Nação Angola. Pois se recolhesse Ubuntu, em referência a que não somos nada sem a unidade, pois “sou porque somos”.
Na quarta memória, Marisol Kadiegi é Akokoto (crânio ou lugar sagrado onde são sacralizados os crânios de líderestradicionais angolanos). Nessa memória a escritora relata a experiência vivida no sul de Angola, onde, durante um trabalho, é levada ao local sagrado dos Akokoto.
Eis aqui nesta quarta memória uma homenagem a sua ancestralidade e a sua mãe KapembaKibonga Dala, quando diz assentar e reverenciarseus mortos, fazendo as pazes com o passado num movimento Sankofa, onde é preciso olhar para as pegadas do passado para dar continuidadeà caminhada para o futuro.
Sobre a autora
Marisol Kadiegi éfotógrafa, jornalista e documentaristapós-graduada em Fotografia como Suporte para a Imaginação (2021), pelo Espaço Cultural f/508, e em História Cultural, Identidade, Tradições e Fronteiras, pela Faculdade de História da Universidade de Brasília (UnB). Também atua como roteirista, repórter e produtora, pesquisadora em história e cultura da África (AFRAKA) e sua Diáspora.
Graduada em Comunicação Social, Marisol é vencedora no Brasil dos seguintes prêmios: “Mulheres Negras contam sua História”, em 2012, na categoria Redação, atribuído pela Secretaria de Políticas para as Mulheres, da Presidência da República; “Brasília 60 anos”, em 2020; e “Mulher Negra 2021”. Esse dois últimos em reconhecimento pela contribuição pela atuação cultural e audiovisual, ambos atribuídos pela Secretaria de Cultura e Economia Criativa do Distrito Federal.
Publicou o texto “Do Luto à Luta: A História de Três Continentes Marcados Pelo Racismo” (2012) e os artigos: “Cinema de cozinha – a territorialidade do Cinema Negro no feminino” (2018), “Merê: territórios e territorialidades do cinema de cozinha” (2018), “Tua presença: o amor em Mulheres de Barro” (2019), “Akokoto: a força Ancestral na Cerimônia Fúnebre de Líderes Tradicionais em Angola” (2021).
Sobre a editora Oribê
O nome “Oribê” é criado a partir de uma contração livre do idioma yorubá, significando elevação da cabeça. A Oribê é uma editora de Taguatinga (DF), que está em atuação desde 2019, tendo publicado livros de literatura e educação, recentemente também abarcando publicações de livros de arte.
(Você pode acessar o livro em PDF clicando aqui.)
Serviço:
Lançamento do e-book“Em mim mora memórias de uma Angola”
Data: 27/08
Horário: 19:30h
Local: Evento online pelo instagram da editora Oribê https://www.instagram.com/oribe.cultural/