A pandemia e os efeitos colaterais na vida e no trabalho das mulheres

Por Lane Costa
LANE COSTA

Convidada a falar sobre trabalho e efeitos colaterais da pandemia na vida das mulheres, no dia 08 de março, aceitei o desafio como a Pagu, da música de Rita Lee, que é “pau pra toda obra” quando se trata de duas temáticas que tenho o maior apreço: trabalho e mulheres.

Antes, porém, informo que a discussão de trabalho que faço, é fundamentada numa perspectiva do trabalho como princípio educativo, que perpassa a formação humana e que reflete acerca da omnilateralidade, ou seja, se quem produz é também consumidor daquilo que produz.

Já a questão da mulher, discuto a partir de uma corrente de pensamento e ação prática que é o feminismo emancipacionista, que compreende as especificidades e a necessidade de cuidados, atenção e políticas públicas para que as mulheres superem preconceitos, discriminações e séculos de tratamento desigual na sociedade. O feminismo emancipacionista entende, também, que essa é uma tarefa a ser realizada por mulheres e homens.

Posto isso, volto meu olhar para a pandemia da Covid-19 que assola o mundo e que comprova, na prática, a fragilidade do neoliberalismo, que nega o papel do Estado, do Estado de bem-estar social e as políticas públicas, ao defende-lo mínimo. Esse projeto societário, defende entre outras coisas, uma forte desregulamentação do mundo do trabalho, o que gera maior desemprego, precariedade e informalidade nas relações de trabalho. Seus efeitos são muito nocivos!

Como consequência, o ônus recai mais duramente sobre os jovens e as mulheres das camadas populares que estão na sua maioria, nos trabalhos informais e precários.

No caso das mulheres, a dupla jornada, com sobrecarga das atividades domésticas redobradas por causa dos cuidados necessários com a pandemia pesa sobre elas, que precisam cuidar dos filhos, cuidar da família, cuidar do trabalho e, algumas delas dos estudos, haja vista que as escolas não cessaram suas atividades de ensino e as mesmas se complexaram.

E as mulheres que já ocupavam em sua maioria, postos precarizados de trabalho da economia informal, passaram a representar uma grande parcela dos desempregados. Só para se ter uma ideia, as trabalhadoras domésticas foram as primeiras a perder os seus empregos.

As chefas de família, que criam seus filhos e filhas sozinhas estão na linha da pobreza. Segundo o IBGE (2018), 38 milhões de pessoas no Brasil estão abaixo da linha de pobreza; dessas, pelo menos 27,2 milhões são mulheres. Aliás, importante dizer que o Brasil, que já havia deixado o mapa da fome pra trás, retorna a ele com muita crueldade! É inadmissível, em um país como o Brasil, ter a sua gente passando fome, morrendo de fome ou em decorrência dela.

A perda de renda das mulheres aponta para a necessidade de políticas públicas e de programas de renda básica emergencial para que elas consigam sobreviver a esse estado pandêmico que se arrasta.

É fato que muitas desistiram de procurar emprego durante a pandemia. Mas isso é compreensível! O Brasil vive um acelerado processo de desindustrialização, de fechamento e fuga de empresas, de diminuição de postos de trabalho. Soma-se a isso, o medo da contaminação pela Covid-19 e a baixa autoestima, provocada por um conjunto de violências às quais estão submetidas.

Nesse cenário, crescem as desigualdades de gênero e raça no mundo do trabalho; aumenta a violência doméstica e a violência de gênero. Mato Grosso têm um alto índice de feminicídios e mortes LGBT.

Da mesma forma, na classe média a situação é muito difícil para as mulheres, com a retirada de direitos, o desmonte do Estado, o congelamento de salários e o custo de vida cada vez mais alto. Além disso, desemprego e violência também batem à porta dessas mulheres que, diferente das mulheres pobres, ao sofrerem violência doméstica, elas enfrentam outras estruturas de poder, relacionadas às suas relações sociais.

E como esse cenário pandêmico desperta em nós, sobretudo mulheres, sentimentos de sororidade e somos Pagus “indignadas no palanque”, cabe a nós liderarmos a luta pela superação da crise sanitária, aliás, as mulheres já estão fazendo isso, pois são a maioria na linha de frente da saúde.

Combater as desigualdades no trabalho; apoiar campanhas por trabalho decente para as mulheres; por mais políticas públicas de geração de emprego e renda com mais postos de trabalho; combater a violência contra a mulher; lutar por mais creches; contra as opressões de raça e gênero, entre outras, são tarefas que estão colocadas para as mulheres que são as rainhas dos seus próprios tanques, e que conseguem liderá-los sem que sua força seja bruta!

* Lane Costa é Professora. Presidente Municipal do PCdoB/Cuiabá

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